29 de setembro de 2009

pequeno gnab





começou a chover. choveu por dezenas de anos, centenas, milhares. prédios derreteram e humanos mergulharam em mares. até se reduzirem a peixes. de peixes em planctons, sementes, em células, nada. depois e mais nada.
a terra pejada de água girou mais lenta e se aqueceu. no aquecimento voltou a ser bola de fogo sem céu.
abraçou-se ao sol. o sol acolheu a chamar novamente tudo para si.
e encolheu-se em buraco minúsculo e escuro.
e este por sua vez em outro que mergulhou em outro e mais outro. mariotchkas.
no centro do que havia sido o mundo, um pequeno ponto adormece.



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28 de setembro de 2009

sol entre bananeiras



joguei fora e lamentei. sempre lamentamos ter jogado fora em certo momento da vida. mas, se não jogamos fora, se não nos separamos, se queremos guardar o tempo, podemos passar a vida arrumando, arquivando nossa vida.

(marguerite duras, a vida material)


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25 de setembro de 2009

roxo (adelia prado)

Roxo aperta.
Roxo é travoso e estreito.
Roxo é a cordis, vexatório,
uma doidura pra amanhecer.
A paixão de Jesus é roxa e branca,
pertinho da alegria.
Roxo é travoso, vai madurecer.
Roxo é bonito e eu gosto.
Gosta dele o amarelo.
O céu roxeia de manhá e de tarde,
uma rosa vermelha envelhecendo.
Cavalgo caçando o roxo,
lembrança triste, bonina.
Campeio amor para roxeamar paixonada,
o roxo por gosto e sina.

louvação para uma cor (adelia prado)

O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa,
o amarelo furável.
Ao meio-dia as abelhas, o doce ferrão e o mel.
Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo.
Este dentro, o minúsculo.
Da negritude das vísceras cegas,
amarelo e quente, o minúsculo ponto,
o grão luminoso.
Distende e amacia em bátegas
a pura luz de seu nome,
a cor tropicardiosa.
Acende o cio,
é uma flauta encantada,
um oboé em Bach.
O amarelo engendra.