1 de dezembro de 2009

luminosos

para janaína





um dia a morte passou a pairar sobre sua cabeça. andava na rua e olhares constrangidos deixaram de ver sua barriga que crescia para parir outro tempo. fixavam-se acima de sua testa.
ignorou por um tempo. mas não resistiu: olhou para cima e, ali, o ponto luminoso. energia concentrada. o onde tudo começa o onde tudo termina.
o que fazer? ela me pergunta.
eu não sei. ouço o que tem lhe ocorrido. ouço tudo o que tem a dizer. também devo ter meu ponto luminoso sobre a minha própria cabeça.
mas os outros não vêm. ela explica.
concordo. faz a diferença do mundo. em seguida pondero que pontos luminosos sobre nossas cabeças são classicamente associados à santidade. da morte dizem nuvens escuras, pesadas, momentos sem passagem. quem garante ser aquele ponto ali surgido o da morte anunciada e não o caso outro?
ela disse sei que não sou santa. sei que vou morrer.
sua resposta não destoava. santos não se sabem santos como vivos não se sabem mortais.
permanecemos caladas. sobre nossas cabeças nossos pontos luminosos em suas visi e invisibilidades. nossas barrigas.
nunca mais a vi.




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Um comentário:

Alvaro Vianna disse...

Deliciando-me com os textos.