12 de julho de 2011

uma colheita muito particular

em quintal, se se deixa, brota de tudo. nem tudo tem nome ou serventia aparente. umas coisas permanecem, outras murcham e nem fazem falta. outras instigam a curiosidade. fiquei curiosa com uma planta que crescia crescia crescia e nenhum sinal de ser de cheiro de chá de flor ou de fruta. nada. um dia, quando já moitava, num gesto bíblico eu disse ou diz a que veio ou te corto daqui a duas semanas. em duas semanas, continuava nada. meio decepcionada, meio com raiva, arranquei fora o pé de não se sabe o quê. virado do avesso para ir pro composto, lá num galho baixo, escondido entre as folhas, um botão de flor virando fruto. fiquei não sei dizer como. no mais fundo, fiquei triste. como sempre, exigi muito e não esperei ou não atentei pro tempo certo.
prometi pros ares que se houvesse outra planta igual, fosse onde fosse, teria todo o espaço para crescer. e eis. em outro canto, com mais sol, as mesmas folhas, sem cheiro sem chá sem flor sem fruto por uns meses esparramando-se onde antes havia outras coisas. deixei. promessa é aquilo. num ano deu meia duzia de pequenos tesouros. esperei na minha paciência incomum. este ano, a colheita se faz de pouco em pouco, sem nunca parar. pequenas gemas de certezas numa embalagem quase crepom.

2 comentários:

Alvaro Vianna disse...

Sabedoria válida para muitas coisas. Eu, como outras gentes, muita vez penso que a vida é curta pra se esperar o fruto de alguma coisa. E aí se morre de fato sem ver nada frutificar. E nem dá tempo de pensar se teria sido diferente se se tivesse tido paciência. Talvez porque nós mesmos sejamos plantas de um outro alguém impaciente.
Beijos.

Maria do Carmo disse...

pequenas gemas de certezas numa embalagem quase crepom ... linda descrição das ushuaias verô! muito linda, muito lindas!!
saudade de você!!!
MCarmo