26 de setembro de 2011

mangas verdes

ele se virou para entender melhor quando ela disse que preferia não saber onde estavam os sapatos perdidos nem onde se pode comprar um bom azeite ou as opiniões das senhoras no mercado, que preferia nunca ter ouvido que houve um satélite a cair sobre o mundo, que preferiria esquecer o que disse nostradamus – era um livro na banca e há muitos anos ela pegou ao acaso para olhar e preferia não ter pego e não ter lido. uma vez quê, preferiria não se lembrar – e também não saber o que vai nas capas dos jornais e no recheio das salsichas. depois, bem depois, chorando ela gostaria de dizer que acompanhava cada movimento do vento no quintal e mesmo o quintal era um mundo muito grande para ela. por menor que seja o tamanho de quem morre, é a morte inteira que vem buscar. e a morte no mistério do nada e do tudo torna as coisas todas particularmente imensas e universalmente minúsculas, como nós.

3 comentários:

Juan Yanes disse...

¡No sólo sabes escribir con tristeza, sino también manejas el humor! Enhorabuena

Ana de Longe disse...

E tudo cabe numa palavrita só. a morte tudo engole.
Ana

Lota disse...

Adorei e cheguei, também ando a pé