15 de dezembro de 2011

pintura em aquarela sobre tela rarefeita de papel de arroz

chegou, fez perguntas. ouviu isso aquilo. me fez lembrar de muitas coisas intensas. eu respondia, ela perguntava. então, agradeceu, deu-se por satisfeita. desligou o gravador.
respirei e disse como quem pergunta: você sabe quem eu sou, não é?
nossas mãos sobre a toalha xadrez, próximas e sem se tocarem.
os olhos dela marejados. foi a minha vez de ouvir. sem gravador, sem perguntas, o pão a crescer esquecido na mesa da cozinha. o passado, uma explosão contida, um resto de memória, nunca toda ela. a dor um registro difuso. ou não sobrevivemos. a faca de cima abaixo e as vísceras. depois tudo outra vez contido. ninguém sabe o estrago de decisões, de palavras ditas no escuro do cinema e um desconhecido a desinterpretar, de copos de uísque a mais, de saquê uma bomba sob o balcão do bar o punhal. do medo e a mão que vem em meu socorro deixa alguém largado na beira no mar nas pedras.
depois que ela saiu, eu me sentei e chorei.

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