12 de junho de 2012

e não me movo




durante muito tempo, do outro lado do vidro, observamos o dragão de komodo. seus olhos tristes, como se dentro houvesse um homem que não consegue sair. os pés são mãos invertidas. a pele é casca de jaca. depois, como a imobilidade seguisse, fomos observar ninhos de flamingos.
construções altas de terra, quase cupinzeiros. ovos. as flamingas a chocar. filhotes de flamingo são feios. e cinzas e desengonçados. e também ficam muito tempo parados.
talvez o homem que habita o dragão saia nas madrugadas para brincar com os pequenos flamingos que alguma vez serão rosa e sonharão voltar para cuba.
no dia seguinte eu tinha lágrimas por todos os lados. quando o mapa me levou para uma cidade equivocada e distante. quando no ombro da menina a tatuagem de uma criança nascida e já morrida. quando no vagão o violino e as danças húngaras.  
na madrugada, meu filho me acordou chorando: tenho medo, eram muitos dragões.


4 comentários:

fabiana jardim disse...

v., o catalão, infelizmente, não fala comigo nem no fluxo (talvez pela minha resistência, pois cada palavra me remete a outra língua que não ele mesmo). mas sua imobilidade, essa sim conversa comigo, bem baixinho. e me lembro com tristeza que os dragões não conhecem o paraíso. um beijo.

Alvaro Vianna disse...

Dragões de Komodo são acomodados.
Encanto de narrativa.

Bjs

v. paulics disse...

asmara e gundur. 12 ovos nasceram.

v. paulics disse...
Este comentário foi removido pelo autor.