25 de abril de 2014

no cravo



foi-se o tempo do paraíso vazio
corredores sem gente
pontos de silêncio e escuridão

volto a me perder nos desvãos de um hospital
as janelas claras enganam
meu joelho falha
quase caio
ao descer a escada
meu joelho dói

saber pisar
é arte
depois, o saber dizer

eu não sei

por todo lado academias de musculação
salões de beleza
pouco mercadinho, pouca padaria
nada de bibliotecas

penso nisso quando lembro
de um homem a predizer
o futuro este prazer de si mesmo
medo de tudo que não seja eu, que seja outro

o que não sei

e ao predizer futuros
em fortaleza de músculos
e beleza de tintas
não soube dizer como interromper o fluxo
ávido do tempo
como concentrar energia
neste corpo confuso
agora confuso
tão confuso

quanto não sei

o rosto dilacerado
cortado em mil
um olho que se abandona
brilho e busca
a mão que treme no lençol insano e busca a minha
a mão

e eu nunca saberei

como sair daqui
como seguir em direção ao paraíso
que já não está vazio
como na cegueira enxergar esta neblina espessa
como saber que não sei


bianca, é muito simples, só me diz se sim ou não
se sim tá ótimo
e se não
tá ótimo também eu procuro outro jeito
mas eu preciso, bianca, eu preciso saber



24 de abril de 2014

moda íntima no subsolo



não disfarço meu peito caído à força da gravidade e do tempo.
depois, ainda penso que sutiãs de recheios bojudos são mais difíceis de queimar.
o juiz – ou seria uma juíza? – perguntou a respeito do assassinato com claros sinais de violência: mas o que fazia ela num bar, à noite, sem sutiã?

como?

como se calcula a (in) capacidade humana de conviver sem medo?
como se calcula a lotação máxima de um ônibus de linha? se lugares para sentar, it´s ok, mas quarenta e uma pessoas em pé? esta uma? se a mais, se a menos. alguém (quem?), de verdade, calcula?
e se quem calcula contar mais de cem?
faz o quê?
explica pro juiz pra juíza pro juízo que a culpa é dos cem. gente demais, é?
a culpa é dela, da moça sem sutiã num calçadão do rio de janeiro.

é?
sutiãs bojudos não disfarçam o peito arfante. que queima.
o medo, este convívio.