22 de junho de 2015

tudo isso são algoritmos


caminho ao longo do longo caminho ao lado do cemitério
de muro azul-bebê dizia alguém
(flores de papel crepom seriam azul-morto para o mesmo alguém)
um filete de sangue escorre pela perna avesso da coxa
atravessa a calcinha a calça jeans
se aloja
no conga azul agora poça

tantas vezes fiz esse caminho de pedra portuguesa
que desenho?
o lado oposto onde uma fábrica abandonada
o capim obstruindo a passagem
a paisagem de castanheiras
a cair folhas laranjas a cair castanhas a cair lagartas gordas e verdes
tão peludas as lagartas
que queimavam diziam
como diziam do espírito do menino que assomava
quando fosse noite

o mundo era um desfile de medos 
também diziam
as ameaças do desconhecido
o homem que um dia mostrou o pau e o pau era feio e engruvinhado
o passarinho filhote caído na beira e colocado na caixa - morreu - também feio também engruvinhado
o medo do homem o medo da morte o medo
do  mistério
do dia em que perdi a pulseira de bolinhas e a mãe disse reza
rezei as tais sextas-feiras e a pulseira no pé de rosa do jardim
como uma guirlanda no pinheiro de natal
perder a pulseira e o milagre eram nada perto do medo do vale de lágrimas de que fosse feita a vida

(algoritmo é um conjunto de instruções ou regras bem definidas, ordenadas e finitas que permite realizar uma atividade mediante passos sucessivos que não gerem dúvidas a quem as execute.)

nada se reduzirá a nada por eu gritar mais alto

1 de junho de 2015

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a escuridão do mundo é barcos
à deriva
milhares de pessoas com sede e fome
que não têm onde aportar
nenhum de nós tem cais
mas alguns nem mar