29 de agosto de 2015

lágrimas

quando rose-lynn fisher mergulhou num tempo de mudanças e perdas, chorou. muito. depois pensou: o que há em cada lágrima seca? seriam todas iguais? esta vista aérea será a mesma se choramos por um filho, uma dor, uma cebola? “os padrões de erosão gravados em terra ao longo de milhares de anos de alguma forma se parecem com os padrões cristalinos ramificados de uma lágrima seca que levou menos de um momento para se formar” refletiu rose-lynn ao ver as primeiras imagens. “é como se cada uma carregasse em si um microcosmo da experiência humana coletiva, uma gota no oceano”. então coletou lágrimas de voluntários. todas tem óleos, enzimas, anticorpos, água, sal. mas distintas categorias de lágrimas têm diferentes moléculas: as lágrimas emocionais contém hormônios que as lágrimas reflexas não contém. nas imagens paisagens de lágrimas de rose-lynn, há lágrimas de rir até chorar, de mudança, tristeza, de cebola, há lágrimas basais e de reencontro, de fim e de começo, lágrimas de possibilidade e esperança, alegria, lembrança, mistério. tudo o que somos vertido em lágrimas. lágrimas impregnando o mundo.

21 de agosto de 2015

...



nascer mundo e pouco a pouco desconstituir-me pólen pó pulsar
minúsculo

então átomo talvez talvez
só talvez

energia

19 de agosto de 2015

libélula

porque desertos, peço água. fossem oásis, não seria preciso pedir.
pense pássaros presos longe de casa asas desbotadas delicadas lágrimas de sal.
em lágrimas atravessar o labirinto - aromas - e, ao sair, um lago, sobre o lago uma libélula que sempre e quase pousa.
perder-se no labirinto é encontrar-se minotauro, dessaber-se teseu, recusar o fio de ariadne: não se tecer.
nos caminhos não se entender. seus mapas. eros destroçado sem perna ou braço.
como os pássaros longe de casa.
o longo labirinto dos desertos: o mistério este céu estrelado: este mar sem caminhos.