2 de março de 2016

talvez nunca

I
o escorpião. a rã. atravessar o rio. a rã tem medo. o escorpião diz: também eu morreria. a rã concorda: suba nas minhas costas. no meio do rio: o escorpião: o veneno. a rã agonizante pergunta. o escorpião acredita que explica quando diz: é a minha natureza.

II
a rã. diz da solidão da travessia. o escorpião explica. a rã não acredita. no meio do rio ela tem medo: abandona o escorpião na terceira margem. depois, a rã se justifica: a tal natureza do escorpião etcetera e tal. ninguém viu. só o rio sabe. mas o rio é sempre outro.

III
o rio. a rã. o escorpião. o pedido. a travessia. do outro lado do rio, o escorpião desce das costas da rã. agradece. a rã comenta: seus olhos vermelhos. o escorpião não explica, diz: não importa, já passou. um dia a rã talvez compreenda aquela travessia. e também o rio. e também o escorpião. talvez, não. talvez, nunca.

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