20 de abril de 2017

entre as tulipas sempre é primavera


vários caminhos diferentes vão me levando para a tradução de poemas de attila jozsef, nascido na hungria em 1905 e morto em 1937, sem que se saiba ao certo se acidente ou suicídio.
o primeiro caminho que me levou até ele foi meu pai. um dia conversando, selecionamos alguns poemas que poderiam ser um bom exercício de tradução conjunta. mas nao seguimos com isso. a vida leva, a vida traz, e isso agora já não será possível. não com meu pai, ao menos.
quando resolvi retomar, soube que havia uma tradução para o catalão. na rede de bibliotecas daqui só havia um exemplar, não emprestável, num lugar distante. procurei saber quem era o tradutor e ao saber que era de valencia, perguntei ao joan navarro, poeta e amigo, se não o conheceria. além de conhecer o eduardo verger, entrou em contato com ele, conversou, e poucos dias depois já me enviava um arquivo eletronico com o conteúdo do livro que estava esgotado.
devagarinho fiz minha própria seleção e comecei a tradução. traduzir é sempre difícil. o húngaro não é uma língua fácil.
aproveitei a viagem que fiz para visitar meu tio, irmão do meu pai, e perguntei a ele se poderia me ajudar a ver o que eu tinha incluído na minha seleção, conversar sobre alguns versos, expressões.
e ali, no apartamento pequeno de uma pequena cidade do interior da hungria, no avançado da noite, enquanto eu dizia das dúvidas, ele e minha tia comentavam o que está além das linhas, liam os poemas, quase sussurro. a dor de attila. e sua voz imensa. via meu tio e nele eu via também os gestos do meu pai. os papeis sobre a mesa sob a luz amarela noite adentro.
e nisso estou: na voz do meu pai. na voz dos meus tios. esse sussurro. e na minha própria voz, ainda perdida, que procuro emprestar para attila jozsef. e o seu grito.


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