sobre os Guaranis Caiovás Ñe'ẽ – a palavra alma, da antropóloga Graciela Chamorro:
 
 A palavra é a unidade mais densa que explica como se trama a vida para
 os povos chamados guarani e como eles imaginam o transcendente. As 
experiências da vida são experiências de palavra. Deus é palavra. (...) O
 nascimento, como o momento em que a palavra se senta ou provê para si 
um lugar no corpo da criança. A palavra circula pelo esqueleto humano. 
Ela é justamente o que nos mantém em pé, que nos humaniza. (...) Na 
cerimônia de nominação, o xamã revelará o nome da criança, marcando com 
isso a recepção oficial da nova palavra na comunidade. (...) As crises 
da vida – doenças, tristezas, inimizades etc. – são explicadas como um 
afastamento da pessoa de sua palavra divinizadora. Por isso, os 
rezadores e as rezadoras se esforçam para ‘trazer de volta’, ‘voltar a 
sentar’ a palavra na pessoa, devolvendo-lhe a saúde.(...) Quando a 
palavra não tem mais lugar ou assento, a pessoa morre e torna-se um 
devir, um não-ser, uma palavra-que-não-é-mais. (...) Ñe'ẽ e ayvu podem ser traduzidos tanto como ‘palavra’ como por ‘alma’, com o mesmo 
significado de ‘minha palavra sou eu’ ou ‘minha alma sou eu’. (...) 
Assim, alma e palavra podem adjetivar-se mutuamente, podendo-se falar em
 palavra-alma ou alma-palavra, sendo a alma não uma parte, mas a vida 
como um todo.
daqui 
23 de outubro de 2012
19 de outubro de 2012
vigilia
a mulher
que por estes tempos dorme ao lado do caixa eletrônico passa os dias lendo.
as floriculturas continuam cheias de flores. estranhei. quando me aproximei vi que são flores artificiais.
as floriculturas continuam cheias de flores. estranhei. quando me aproximei vi que são flores artificiais.
agora
chove. as árvores perdem as folhas, o mundo vai silenciando. como um
fim de festa. se esquentar um pouco, será possível colher cogumelos. 
para o dia
de todos os santos, castanhas assadas, panellets e moscatel.
5 de outubro de 2012
outubros
nossos filhos nasceram em 
outubro. para mim outubro sempre foi primavera. mas o mundo é grande. 
onde um dia envelhece outro lugar amanhece. na grandeza do mundo também 
aprendo que é possível que as ruas sejam largas, que haja praças e todos
 se encontrem ao caminhar por elas. que não é preciso ter medo do medo 
do medo, sempre o medo. na minha cidade, aquela de onde venho e onde 
vivo, sei que tem sido difícil plantar uma horta, que nem todas as 
sementes brotaram como prometido, nem todas darão frutos enquanto ainda 
estivermos vivos. mesmo assim, confio no que se gesta no segredo da 
terra. é outono aqui, as folhas caem, mas vejam, aí, nesse momento: e 
tudo só está nascente.