4 de agosto de 2025

das lágrimas

em outros tempos, alguém inventou um pote para guardar lágrimas: pequenas ânforas de vidro e uma tampa que mal fecha. depois de guardadas as lágrimas, era preciso esperar que secassem. quando as lágrimas desapareciam, encerrava-se o luto.

tem vezes que a morte se aproxima e ronda, ronda, ronda e não se afasta por nada, repara.
olho em volta e constato tanta morte, tanta morte, e chego a ter medo do meu próprio fim.
depois, de tanto vê-la, a morte, entendo melhor as duas pontas desta vida e uma flor se abre em pleno verão.
o medo se reclui e me preparo para quando for, de fato, minha vez.
aprendo a chorar o tanto que escave na pele uns vãos por onde passe, de leve, uma brisa.