24 de outubro de 2014
os dentes do tempo
sonhei com s. eu a visitava em seu apartamento no rio, como era nos
primeiros dias, sem muitos móveis, tudo um pouco desordenado. ela mesma
me abria a porta, estava arrumada para sair, com suas roupas punks anos
80. toda ela um tanto translúcida. então eu perguntava se tudo estava
bem e ela, com um sorriso um tanto desanimado, mas nunca desesperado,
respondia que sim, e que eu desse uma olhada no quarto. no quarto, sobre
a cama, ela mesma, ali, morta. o corpo de certa forma já
se desfazendo. moscas. ouvi r. chegar feliz. pronta pra sair também. eu
perguntava o que faríamos com o corpo de s. e s. respondia: deixa lá
mesmo, já foi... e o final do sonho, como tantos, se desvanece, se
perde, entre o nonsense total e a sensação remota do que li ontem, de
que não necessariamente o ser humano está aí para ser feliz. e, se nos
isentarmos deste imperativo, pode até ser que um lampejo de felicidade
nos tome.
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