28 de julho de 2021

milhares

um tronco. um osso seco. um cajado caído na beira. tomates, rúculas, pepinos. sol de meio dia. o milho cresce folhas amarelas: nesta terra falta alguma coisa. sempre falta alguma coisa. no retrato de família, aquela fartura, e falta. no abraço. no calor. na pele. e falta. tua mão. minha nuca. filhos plantados, alimentados, crescidos. e também para eles, sempre: na terra da horta há pepinos, tomates, rúculas, mas o milho anuncia que alguma coisa falta. falta alguma coisa nesta terra. sempre falta.

27 de julho de 2021

mistérios da terra

neste tempo seco, é preciso regar as plantas com cuidado e nunca na hora do sol quente. se o primeiro jorro de água é muito intenso, tende a escorrer pelas beiras dos vasos sem penetrar a terra, que forma uma espécie de carapaça de proteção contra águas. é preciso, então, muita paciência para que a água, caindo em filete, vá umedecendo e aos poucos molhando primeiro a camada mais externa. e só quando esta camada mais externa estiver impregnada voltar a jogar mais e mais pequenas porções de água que passarão à camada seguinte, e assim sucessivamente, sempre a partir daquele um ponto onde a terra já absorveu a água é que se segue regando, até que a água absorvida camada por camada a partir daquele ponto umedeça todo o vaso de terras e assim a raiz possa finalmente beber. por mais que se tenha pressa, jamais, de forma alguma, se há de esguichar água nas folhas num dia quente ou elas cozinharão ao sol. ¬
e nem só de plantas estou falando.
 
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mas se estou falando de plantas é porque meses atrás, num impulso, decidi não jogar fora um tomatinho que se desfazia na mão.
 
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os sins são um mistério bem misterioso, não?