18 de março de 2018

cegos desciam as escadarias


muitos cegos desciam as escadarias do metrô em fila indiana. o primeiro deles conduzido por um cão. ultrapassei-os na minha pressa. depois, sentada à espera do trem, eles me rodearam e se sentaram também. fechei os olhos para saber o que sente um cego entre outros cegos à espera na multidão. quando veio o trem nos levantamos todos e seguimos. para que eu não me perdesse, um deles me deu a mão. agora que subimos escadas, sei o cheiro do dia claro, alguém com pressa nos ultrapassa, vou de mão dada, seguimos aquele que leva o cão. cegos entre cegos, nos guia este arfar.

13 de março de 2018

tanto lugar num



a cada manhã o mundo é outro. quando se mora diante de uma árvore observando-a a cada dia, isso é mais claro. nem por isso evidente. a gente olha o mundo todo dia mas quase só vê o que já pensa saber, só o que sabe que verá. quando era criança e deitava na poltrona de cabeça para baixo, gostava de imaginar como seria pisar o teto, desviar das lâmpadas, atravessar as portas. pisar o céu. os muitos lugares num lugar só.