29 de novembro de 2010

28 de novembro de 2010

27 de novembro de 2010

medo?

“um aleph desgovernado me levando para nunca mais. fazendo de mim um longe dos meus, fazenda de linho sem lastro, buraco de um tricô sem ponto”

(jader scalzaretto)

26 de novembro de 2010

medo?




medo? a guerra. no medo de ter medo o tempo inteiro. e em nada, nada mais acreditar. uma arma roleta russa apontada para a cabeça de quem você ama. a te obrigarem a segurar a arma, apertar o gatilho.

25 de novembro de 2010

medo?




meus filhos sofrendo sem mim. penso e me aperta o coração, um medo que dói.
mas a barata eu mato mas o rato. tenho saudade do tempo em que eu não sabia que havia o medo no equilíbrio de não negar fugir fingir ou sucumbir.

24 de novembro de 2010

medo?




medo? que nossos filhos morram. que eles sofram. que o ar não entre, que o ar não saia. mesmo que eu não vire nem cinza nem fumaça, nada. o que dá náusea desespero o verdadeiro nome do medo imagine atravessando a rua e eu a levo pela mão, a pequena, e um carro – quase, por um triz – e o que eu faria o resto da vida o que eu faria como eu viveria com isso? tive medo.

23 de novembro de 2010

sem espera, a vida



(foto de zsolt zsoló koté)
outras fotos de zsoló aqui.

medo?




medo? a impossibilidade de um salto. o escuro e no escuro uma barata, no escuro um rato.

medo? a doença que detona o fio da vida de cada um. quero morrer de surpresa sem perceber. temo o que no oculto se tece.

medo? o beijo do inimigo que a gente não sabe. o bicho que se esconde e nos esquece.

(sigo sem saber piadas em inglês.)

22 de novembro de 2010

segunda?

quando eu tinha quase vinte, e os retratos eram em papel, frequentava o laboratório de fotografia de um museu pequeno e pleno de árvores.
vera, fotógrafa dali, estava mudando seu foco - do mundo amplo para os detalhes minúsculos de sua casa e seu cotidiano.
aquilo para mim parecia um monolito indecifrável. como diante das rochosas, restava olhar e admirar o puro não entendimento.
o tempo dá delicadezas aos olhos e provoca pequenas fendas nas imensas paredes de pedra. um filete de água escorre.

12 de novembro de 2010

o tempo




de manhã abriu a porta olhou em volta e disse vou ali mergulhar naquele olhos já volto.
até agora nada.

11 de novembro de 2010

fábio e gabriel

quero e não quero dez pãezinhos.
quero é o quase nada. rara coleção de quase nadas.
como se depois de termos ido juntos numa tarde chuvosa à padaria comêssemos os pãezinhos frescos mornos com manteiga uns a preferir a casca outros a devorar o miolo.
e quando já todos alimentados, mesa quase vazia, alguém se voltasse e visse na toalha uma pequena migalha largada sob a luz também largada acesa.
é esse que quero esse quase nada.

8 de novembro de 2010

novena de maria rô

saí do desespero quando recebi as tais rosas e já duvidava da risada de deus. também ri muito antes chorei. antes ainda só eu era espera no mundo à espera inteiro. nem rosas nem amarelas. queria toda nenhuma cor qualquer. queria muito a tal flor, aquela. sei não só eu espero sei nem só para mim pétalas demoradas em som de riso sei mas é porque eu quis, quis tanto. e, então, só então, eu vi.

5 de novembro de 2010

kulina




enquanto uma me pergunta dúvidas sobre o suspirar, outra me conta de sua siesta ao sol. certeira.
nem uma das duas se sabe poeta.
não sei porque, mas penso, penso, penso muito, nas pequenas sementes que moram na pequena menina que se prepara para nascer. também sua mãe é pequena, como pode ser pequeno quem tem tanta semente por aí.
deve ser por haver pela casa uma mini floresta em terra escuro janela estufa banheiro algodão. o milagre exposto. lento e misterioso nos olhos de meninos. também pequenos, como os feijões.

3 de novembro de 2010

dia de festa




a alegria não nasce pronta.
há um tempo, tanto e tão pouco, plantamos uma mangueira. cresceu. precisou de poda. precisa de sol. já deu mangas, já dá crianças nos galhos. às vezes, muitas.
nessa primavera, um casal de sabiás-laranjeira fez ninho nela. num dia de ventania, apareceu um ovo pequeno azul pintadinho que bem pode ter caído de lá. não sei.
o ninho, como na coleção mais linda que já vi, persistiu.
dia desses, ouvimos uns piados. seriam os filhotes? curiosa, subi, subi, subi até chegar nos galhos finos e mesmo assim só a ponta de um bico. minúsculo.
desci, voltei com a máquina de retratos estendi os braços fotografei cegamente. e então pudemos ver a beleza deles que está e está por vir.