28 de maio de 2021

o que não vemos na terra

não sabia nada dos campos de concentração para os asiáticos nos estados unidos durante a segunda guera. não sei de tanta coisa. por isso sempre penso que também o que sei deve ser só uma parte mínima do todo que de verdade aconteceu. especialmente se o que sei diz respeito ao que vivemos neste dia a dia tão obtuso e enevoado. saber exige um certo distanciamento do tema sabido, ou no tempo ou no espaço?

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li uma entrevista que me tirou um pouco do eixo, não por dizer coisas que eu não pensasse. pelo contrário, porque vai enunciando em voz alta muitas coisas que faço de conta que nem penso porque pensar, como disse o walter kohan que eu não conhecia e acabei de conhecer por estes dias numa aula inaugural da feusp, pensar é difícil. e pensar não é sozinho, ainda que pareça ser.

a entrevistada se chama teresa forcades. e ela disse que.

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a lua linda e imensa de maio. as pessoas que se foram em maio, as pessoas que chegaram em maio. nossa vida nova é nascida em maio. aqui há rosas, muitas rosas. e morangos. e cerejas, pequenas frutas do mato. e a urgência das plantas, seu sexo luminoso voltado para o sol e os insetos, querendo vento e sementes. é tanta cor em qualquer terreno baldio onde um pedaço de terra se permitiu acolher o que vem pelo ar. e os pássaros. e, dentre os pássaros, o revoar das andorinhas que chegam em bandos, na ponta cortada do rabo chega o verão. ou vai. primeiro vem. só depois, quando os dias voltarem a encolher, as andorinhas passarão levando o calor pra longe de nós. 

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a batata está imensamente florida. e já há tomates pequenos, verdinhos, enchendo-se de sol.

logo vai fazer um ano que estamos nesta nova casa, cheia de ar e luz.

 

26 de maio de 2021

sobre o que nem vemos no céu

a via láctea feita de estrelas, gás e pó não é bem um disco, é uma galáxia em espiral e a parte mais externa está torcida para cima de um lado e, do outro, virada pra baixo. nada nela é estático e no seu movimento de rotação lembra o cálice de uma flor ou o giro de um pião um copo de leite se derramando sobre si mesmo e também este eixo se desloca com o tempo como se desloca o eixo da terra e por isso a estrela que dizemos polar há catorze mil anos vivia ao lado de vega e não no norte do nosso céu.e há quem nunca mude os móveis de lugar.

19 de maio de 2021

ouro desta terra

leio as notícias astronômicas e científicas da mesma maneira que as notícias do dia a dia dos humanos, em pedaços desconectados do todo, mal sei o que está acontecendo, não entendo os fluxos nem as consequências, também não sei como é que se chega em tal ou qual notícia e por que esta e não aquela estampa as primeiras páginas ou ocupa letras garrafais na tela do meu computador.

já os poemas, mesmo os de outros tempos, me dizem sempre o que é que está acontecendo entre nós, humanos. consolo na praia, por exemplo, de carlos drummond de andrade:

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

 

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no verão passado plantei uma tampinha de beterraba. enraizou e formou uma montainha. a montainha deu folhas, muitas folhas, que fomos usando para salada. depois cresceu mais, nunca parou de crescer. as folhas que nascem são cada vez menores, mas a beterraba da qual elas nascem se parece cada vez mais a uma mini montanha onde pastam as cabras, ou um elefante que enterrou as patas e a tromba no chão fofo do vaso e resolveu virar planta. penso que não lançou raízes muito firmes, penso que talvez já esteja cansado de fazer brotar tantas folhas, penso que me apeguei à sua aspereza, sua incompreensível insistência para mim que olho uma pedra e não sei o que ela pensa.

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por um tema diplomático, marrocos relaxou na vigilância de sua fronteira com espanha, em ceuta, que na verdade é na áfrica, embora se considere território europeu. estes dias, mihares de pessoas vindos de vários países africanos, atravessaram a nado, cruzando um espigão que é a fronteira, que é a porta de entrada para um mundo um pouco mais ameno que aquele de onde toda esta gente vem. há muitas pessoas defendendo a vida e o direito destes migrantes. mas a maioria das pessoas quer que se garanta este direito e esta vida longe daqui, longe da europa. como se a grande ameaça, como se o que de pior pode acontecer é que cheguem estas mulheres e estes homens de outro continente. como se a vida não estivesse toda ela ameaçada porque fingimos que as fronteiras nos protegem de alguma coisa. o medo do outro, da sua história, das suas canções, dos seus hábitos, da cor da sua pele. uma mulher da cruz vermelha abraça um homem que sobreviveu ao mar, que chegou à praia. é um abraço tão humano. tudo o que alguém que se vê desesperado a ponto de sair da sua casa, do seu mundo, da sua língua e vai na direção de outro mundo, outra língua, buscando casa, tudo o que esta pessoa quer é ser abraçada, ser acolhida, um humano e outro humano. os abraços andam, mesmo, muito raros.

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também jacarezinho, e a invasão de áreas indígenas, e a irresponsabilidade com a disseminação da covid e da fome são esta ausência de abraços. é a nossa imbecilidade, a nossa incapacidade de ver um todo que nos leva a combater o outro, a combater a própria vida. sempre me lembro de quando escrevi sobre cidades acessíveis para os cadeirantes e do quanto ficava óbvio que uma cidade boa para cadeirantes é uma cidade muito melhor para todo mundo. um mundo em que não haja miséria, em que todos possamos viver bem é um mundo melhor para todos. é preciso abrir mão de alguma coisa num primeiro momento? sim, é preciso abrir mão.

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enquanto isso, passo ao lado do container de coleta de roupa, de uma organização que dará um novo uso a estas roupas e vejo uma montanha de roupas boas, uma montanha jogada no chão. ligo para o número da associação responsável pelo container. digo que vi a montanha de roupas. ela agradece, diz que quando há mudança de estação todos os dias há sobrecarga nos containers. não entendo bem. ela explica que muitas pessoas se desfazem de todas as suas roupas de inverno quando chega a primavera. pergunto: e no ano seguinte compram tudo novo? ela respira e diz: sim, tudo novo.  penso nas minhas roupas. penso num professor de economia que me dizia que o mundo só poderia reduzir a pobreza se se produzisse cada vez mais e cada vez mais pessoas pudessem comprar. e esta é uma mentira tão descabida, tão absurda, mas que está instalada como um deus torto e cruel na cabeça de tanta gente. além de vários outros poréns, há muito tempo o aumento da produção de bens de consumo não gera renda e há muito tempo que também o trabalho não é um redistribuidor de renda. se é que alguma fez chegou a ser.

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observo as árvores do pátio. quase todas ficaram já verdes. algumas de um verde profundo, outras ainda de um verde novinho, fresco. mas quase todas  verdes. menos o jacarandá, que logo explodirá em azuis. se bem que as flores do jacarandá mimoso são lilases. o que não quer dizer que as flores azuis não existam. verônica é uma flor azul, por exemplo.

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“na cidade húngara de szombathely, lugar de nascimento fictício do pai de leopols bloom, celebra-se bloomsday nas ruínas de um templo romano e na mansão blum.” pra mim, szombathely era só o nome de um lugar onde parava o trem que vinha da áustria a caminho de budapest, e era o mais próximo da casa do meu avô, pai do meu pai. ali, meus tios foram me buscar uma vez. e depois me levaram ali de volta. ali também uma vez ficamos parados à noite, e os soldados russos entraram com a brutalidade própria dos soldados, revirando malas, perguntando como quem ameaça e nós, espremidos de susto e sono. a luz amarelenta da cabine do trem. o cheiro de cigarro e do medo.

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“El primer isótopo radiactivo extraterrestre hallado en la Tierra ha hecho que los científicos se cuestionen acerca de los orígenes de los elementos que se encuentran en nuestro planeta. Los investigadores han descubierto rastros diminutos de plutonio-244 en la corteza oceánica junto con hierro-60 radiactivo. Los dos isótopos son prueba de los sucesos cósmicos violentos que se produjeron en las cercanías de la Tierra, hace millones de años.

Las explosiones de supernovas crean muchos de los elementos pesados de la tabla periódica, incluyendo aquellos que son vitales para la vida humana, como el hierro, el potasio y el yodo. Para formar elementos más pesados, como el oro, el uranio o el plutonio, se pensaba que era necesario un proceso más violento, como la fusión de dos estrellas de neutrones.

Sin embargo, un estudio dirigido por el profesor Anton Wallner (The Australian National University) sugiere una imagen más compleja. «La historia es complicada; posiblemente este plutonio-244 fue producido en explosiones de supernova o podría tratarse de restos de un fenómeno mucho más antiguo pero más espectacular, como la detonación de una estrella de neutrones», explica Wallner.

El plutonio-244 y el hierro-60 que existían cuando la Tierra se formó a partir del gas y el polvo interestelares hace cuatro mil millones de años, hace mucho tiempo que se desintegraron, por lo que las trazas actuales deben de haberse originado en fenómenos espaciales recientes. La datación de las muestras confirma que se produjeron dos o más explosiones de supernova cerca de la Tierra. «Nuestros datos podrían ser la primera prueba de que las supernovas sí que producen plutonio-244», concluye Wallner.” (texto de Amélia Ortiz, do Observatório Astronômico de Valência)

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há muita, muita coisa no mundo que eu não entendo, quando muito intuo. talvez intuir já seja uma forma de compreender.


14 de maio de 2021

abrir um espaço para os insetos

tem dias que alguma coisa pequena nos desmonta e em seguida um outro acontecimento também mínimo volta a nos organizar por dentro.

dia destes o (meu?) cão que me acompanhava  na praça foi na direção de um homem que brincava com uma bola e o (seu?) cão que o acompanhava. o meu cão gosta de latir quando quer brincar. além disso pulava acompanhando a bola que o homem erguia e abaixava. de longe, vi que o homem se irritava e chamei meu cão. que nem tchum pro meu chamado. fui me aproximando e vi que o homem estava realmente alterado pelo fato do meu cão não parar de pular diante da bola que ele continuava levantando e abaixando enquanto gritava com meu cão e comigo para que eu tirasse aquele cão dali, ameaçava dizendo que o seu cão morderia o meu, enquanto lançava a ponta do pé na direção do meu cão. entre as ameaças, os latidos e saltos que foram se tornando nervoso do meu cão, pedi que ele parasse os movimentos e os gritos para que eu pudesse acalmar o meu cão, mas ele só xingava e além de ameaçar o cão com um chute, veio na minha direção, e me empurrou. aquilo me tirou do sério. e me tirou do eixo. gritei com ele que não me tocasse. que se voltasse a me tocar eu chamaria a polícia. e logo pensei mesmo em chamar a polícia mas só me vinha à cabeça o 190, mesmo sabendo que aqui o número é outro. enquanto isso, outras mulheres que passeavam com seus cães se aproximaram porque viram o movimento agressivo e ouviram seus gritos. quando consegui atar o meu cão á guia, fui me afastando, mas a confusão estava feita e o homem agora gritava com outras das mulheres do grupo, dizendo que soltaria seu cão para que mordesse nossos cães. que chamassem a polícia, mas que soubessem que ele também era daqui, do país, e do bairro, e que não estava nem aí pra nada e outras coisas ele dizia que eu não tenho vontade de repetir, que eu nem saberia ao certo repetir, mas aos poucos, enquanto nos ameaçava a todas e a nossos cães, foi indo na direção da saída da praça e por último disse que a culpa era do ramadan, porque ele não podia fumar e ficava nervoso e eu, em vez de ficar quieta e calada, precisei dizer que deus talvez preferisse que ele fumasse no ramadan em vez de sair agredindo as pessoas daquela forma e antes mesmo de terminar de dizer, já sabia que eu não sabia nada de ramadan e o melhor era ter ficado quieta, mas quando a gente fica nervosa e sai do eixo faz muita bobagem, e era uma tensão muito grande, uma violência, uma agressividade que eu nunca tinha vivido aqui neste país, embora por muitos anos ela tenha feito parte do meu cotidiano e talvez por isso, por ter feito tudo o que ia contra aquilo que acredito e aquilo que o bom senso diz que se deve fazer nestas horas, quando o homem e seu cão foi embora e ficamos umas poucas mulheres e nossos cães, quando pude dizer que então eu voltaria para casa, minhas pernas perderam a força e todas as lágrimas vieram como um rio que a gente não tem como controlar. tudo misturado: tristeza, raiva, vergonha, medo. enquanto eu parava de chorar e o coração voltava ao seu ritmo mais equilibrado pensava que este homem, que pela idade poderia ser meu filho, talvez só visse naquela praça um bando de mulher branca com seus cães e naquele bando ele pensasse no mundo que o olha torto ou, nem sei se melhor ou pior, um mundo que não o vê, talvez ele só quisesse ser visto. talvez ele só quisesse estar no lugar que nós, mulheres brancas com seus cães, estamos. nada disso justifica a violência, mas explica. penso muito no quanto os processos de exclusão são históricos e marcam as nossas vidas. uma vez entre mulheres brancas me perguntaram uma palavra em francês e eu disse que não sabia porque não era francesa, era brasileira, e uma mulher disse que se ela fosse sudaca (pejorativo para sul americanos) preferiria passar por francesa. foi nada considerando o peso do racismo no mundo. e já foi tão pesado. no fim do dia do cão e o homem violento eu estava cansada pela tensão, pela tristeza, pela constatação de como somos este mundo como somos. por muitos dias fiquei fora do meu eixo. ainda estou. se pudesse, buscaria o homem e explicaria tudo isso pra ele. não voltou à praça. nem eu tenho feito de ficar por ali.

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conheci a angélica freitas.

na verdade, eu a conheci ao ler um de seus poemas em 2007. este:

 

Praia simples

Oito mil quilômetros de areia pras garotas brasileiras, eu dizia
e você sorria como sua avó nas fotos, naquele maiô preto
nas praias de Santos
sua avó devia arrasar naquele tempo, eu dizia
e você sorria, pára com isso

uma dinastia de mulheres moldadas nos melhores biquínis
uma dinastia de mulheres dispensando automóveis
pra caminhar nas praias sem havaianas

estou com você, mas minha avó era tímida

também era muito branca

caminho na praia disfarçando o sem-jeito
que não deu pra encobrir com modelitos.

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depois, li muitas outras coisas que ela escreveu. e entrevistas. o que eu fiz ontem foi conversar com ela. e olhar o mundo enquanto andávamos a pé por esta cidade que por estes dias voltou a se encher de mesas nas calçadas e de risos.

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acompanhar a primavera olhando as plantas dá uma noção clara da urgência da vida. depois do silêncio do inverno, o que é verde se mexe, cresce de maneira quase visível. da manhã pra tarde todo broto se transforma. é bonito acompanhar. e a explosão de flores deixa quase tontos os insetos. acho que vou fazer um hotel pros insetos.

1 de maio de 2021

abril fechando-se em chuvas

e acabou abril. nuvens e garoa. alguns dias de chuva. a umidade tão rara nesta cidade entrando pelas frestas da vida.

as sementes brotam, os brotos se abrem em folhas, o que tem flor aproveita para florir, o colorido dos matos nos canteiros de obras abandonados, nos pés das árvores o cardo roxo e espinhento, o dente de leão amarelando, as papoulas vermelhas, as mil florezinhas que não sei o nome, brancas, alaranjadas, rosas, quase azuis.

isso foi antes de passarem os da jardinagem da prefeitura: cortaram o que puderam ao rés do chão, deixando a terra nua, feridas abertas no cimento. e cada árvore isolada no seu quadrado, sozinha. os pés pelados.  

muito perto daqui os novos projetos paisagísticos das praças combinam arbustos e flores e árvores de pequeno porte que reproduza a lógica dos bosques próprios destas terras.  e tudo viceja. há insetos e movimento mesmo quando tudo parado e sem humanos por perto. é tão bonito. há quem diga confuso. para um continente que insiste no mono, imagino que este pluralismo soe desconcertante.

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estes dias ouvindo edward hirsch falando sobre poesia norte-americana me surpreendeu sua abordagem. num resumo muito rasteiro, ele dizia que a história da poesia norte-americana precisava ser contada de outra forma. que o primeiro de tudo eram as canções e as histórias dos povos originários, depois, chegaram os puritanos ingleses com a sua poesia e agregou-se a isso o canto dos que vieram da áfrica, escravizados. ou seja, ele inverte o que em geral as pessoas fazem: começa-se a história pela poesia europeia que chega na américa e ali é influenciada pelo que os povos originários faziam, etc.

o mesmo acontece com o que se chama de poesia brasileira: a história nos fala dos gregos e romanos, das cantigas de amigo, dos trovadores, os sonetos e outras mil formas, a idade antiga, a idade média e o tempo dos descobrimentos quando, ao chegarem no brasil, a tal poesia é influenciada pelas línguas indígenas e africanas. um ponto de vista mais honesto seria falar de todos que viviam no território hoje chamado brasil: dos yanomami aos guarani, dos tuxá e pataxó aos huni-kuin e madiha e suas canções e suas histórias e suas narrativas e compreender os processos de incorporação que ocorreram a partir da chegada, impositiva ou não, da língua portuguesa em suas vidas e das inúmeras línguas africanas, cada uma com sua cosmovisão e sua própria  poesia, musicalidade e ritmos. em vez de pensar numa poesia que chega desde fora e é influenciada, pensar na poesia desde dentro, que já havia, e como ela é transformada no processo da invasão e da violência subsequente. como a poesia brasileira é a poesia que se fez apesar da violência ou a partir da violência que nos constitui enquanto nação.

alguns olhares só me foram possíveis a partir do momento em que saí do território que considerava meu e onde transitava familiarizada com os processos. passar a viver na europa é a confirmação de uma intuição que eu já tinha tido em alguns períodos passados aqui, em viagens: no brasil tenho cara de europeia, alguns hábitos europeus, modo de pensar e língua materna europeias. mas na europa, apesar da pele branca, sou uma mistura de hábitos, modos de agir e pensar, desejos, sonhos e pesadelos que refletem tudo o de que somos constituídos nós, brasileiros, ou, num pensamento ainda mais amplo, nós, latino-americanos.

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e hoje, dia das trabalhadoras e dos trabalhadores, penso que deveria ser um marco para que nesse dia, ao menos uma vez por ano, nos obrigássemos a pensar uma sociedade que encontre novos caminhos para garantir o acesso a direitos que não seja pelo emprego. trabalho há e muito e para todo mundo e não conheço ninguém que não goste de trabalhar (no sentido de contribuir para transformação do mundo). já  emprego há cada vez menos e, na realidade, jamais foi um mecanismo de distribuição de renda ou de acesso a direitos. foi um só um faz-de-conta. renda de cidadania, estado de bem-estar, socialismo, podemos dar o nome que quisermos. o fundamental é que todos possamos existir com dignidade e ampliar a vida no planeta. (preciso pensar mais em tudo isso. deixo a anotação tosca aqui, para não perdê-la.)

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estou chata, eu sei. nada de poesia.

talvez me falte viajar de ônibus: estas viagens em que não adianta ter pressa, que não depende de nós chegar em qualquer lugar, e que são como se o tempo e o espaço se fundissem num movimento rítmico, quase um mantra existencial. dia desses tenho me lembrado de longas viagens de ônibus em que tudo se suspendia. era bom.