aprender uma língua quase morta
contornar um câncer com sabedoria
controlar os medos sem pressa
cortar os vestidos muito longos
desviar dos pedágios
guardar anéis
livrar-se do excesso de livros
ser portátil
depois
levar os bois
levar os porcos
levar os gansos
a pastar
ensinar aos filhotes o caminho da casa
no inverno calcular metros cúbicos de madeira
entre os tijolos preparar a renda dos lençóis
meu pai relê o mundo em sua velhice
melhora-o
ameniza-o
o mundo áspero e os espinheiros que somos
uns para os outros
as valas que nos tornamos todos
minha mãe oculta-se do mundo
diz que mal se lembra
para os dois, o medo dos aviões do inimigo
e a planície
os bombardeios
as crianças sabem melhor os perigos
é uma questão de olfato
e sentem mais frio nos pés
os velhos não gostam dos ventos em amplos espaços
e atravancam suas casas internas
com coisas nas quais tropeçam a cada manhã
depois dizem
meu pé lateja
não sai água da torneira
na minha idade muitos já morreram
os tapetes não têm vísceras
os quadros são nuvens cinzas
onde piso é o onde vivo
se existo sou um abraço,
sem abraço, um naufrágio.