procuro
desesperadamente uma palavra que perdi dentro de um poema. procuro o
poema entre os livros da minha pequena biblioteca, entre a
chuva do dia. sei que
havia uma conexão com a palavra deserto e esta conexão me permitia compreender
o mundo, compreender
por que me volto ao ouvir uma voz no silêncio.
saber onde
está quem se conectava a esta mão que faz o gesto familiar na direção do meu
rosto e tira um cisco um fio fora do lugar, como tantos, tantos fios. perco o
poema perdemos a hora perdemos um fio de uma memória que não se perde. a palavra
se enrosca e se esconde na raiz de outra palavra que procuro procuro.
preparo um
chá para este dia outra vez frio primavera e abril.
corto o pão
em fatias.
busco o mel.
pergunto a
cada poeta o que me diz em suas primeiras páginas sobre o deserto e onde está a
nota de rodapé que agora me soa única explicação do mundo. as
explicações – sempre elas – busco a sequência da vida. às vezes a
poesia está na explicação. como as
nascentes secam e brotam entre as pedras e os cactus. o mistério
é a palavra que cria águas não a nascente.
as nuvens
carregadas se sabem o revés da poesia, deste verso que busco no gesto da tua
mão.
entre os
livros ouço o grito de um cego e meus olhos de vidro se voltam para o céu.