voto.
volto pra casa e preparo pão. farinha, fermento, água, sal. o
pão é um exercício de confiança no futuro e de nenhuma arrogância. que o
pão fique bom não depende só de mim e do que eu seja capaz. depende
muito da farinha, que por sua vez depende do trigo, que depende da terra
e da água e da semente que dá origem ao trigo. a farinha depende de
quem plantou o trigo, de quem o moeu, de quem o armazenou e o fez chegar
até mim. as minhas mãos que o amassam. o sal e sua trajetória
desde o mar. a água e seus caminhos. o fermento é sempre uma confiança
no futuro. o fermento é feito de farinhas e águas juntadas a outras
farinhas e águas fermentadas, remetendo a vidas passadas e variadas que
vieram muito antes de nós. este amassar me lembra que minha mão é
necessária mas não suficiente para que esta mistura de sólidos e
líquidos e fermentos cresça e, ao assar, se transforme em pão. sei que a
esperança de um pão compartilhado aumenta as chances de que a massa que
amasso e asso se torne um bom pão. mas sei também que as mãos que
plantaram a semente, que colheram, a que moeram e fizeram o trigo se
tornar farinha não conhecme a minha mão e, no entanto, delas também, de
todas nossas mãos – passadas e presentes - depende este momento, em que
uma massa se transforma, e que tenhamos todos pão para comer.
pus o pão no forno.
espero.