tem gente que sempre sabe o que está plantando e já faz planos para a colheita. tem gente que até calcula quanto será colhido, para quem entregará os frutos. eu, eu nunca sei o que planto, nem se terei colheita ou quando. para toda semente ou broto ou muda que me chega busco um lugar, um cantinho de vaso, um pedaço de chão. revolvo a terra, rego, evito excesso de pragas, alimento. às vezes as mudas morrem. nem sempre a semente nasce. tudo pode passar ao longo do tempo. mas quase nunca fico pra ver. de vez em quando volto por um lugar onde sei que joguei sementes e vejo frutos. também não sei se é a semente mesma que joguei que frutificou. pode não ser. e pode ser. me alegro pelo fruto. ou pelo verde. ou pela sombra ampla da folhagem. uma vez cheguei a ver um ninho e os filhotes nos ramos de uma árvore que cuidei até crescer. outras vezes esperei rúculas e rabanetes – tão simples – e só folhinhas mirradas que logo secaram. na verdade, nunca sei. e está bom assim também. o tempo é lento e ninguèm vê a pedra quando nasce.