quando chega a primavera, a murta na entrada da casa da mãe se enche de florezinhaas brancas e seu perfume entontece qualquer um ao entardecer. nos ocupa em todos os sentidos. mas a erva de passarinho ocupa a murta e a enfraquece se nos esquecermos de, de tempos em tempos, liberar os galhos, disse a vizinha.
um dia me ocupei de tirar a erva de passarinho da murta da entrada da casa da mãe. a erva se enrosca nos galhos, pequenas garras se alimentando da seiva da árvore, parecem mil minhocas relutantes em se soltar da superfície lenhosa da murta, como filhotes agarrados à mãe.
sem pensar muito, meto a mão entre as ramagens, aranco a erva, arranco e a jogo no chão e volto a arrancar dos galhos grossos e dos galhos finos, dos galhos cada vez mais altos. busco uma escada e sigo arrancando, arrancando, arrancando, criando montanhas de plantas arrancadas.
enquanto arranco me pergunto por que prefiro a murta à erva de passarinho.
erva de passarinho é medicinal, diz o oráculo. por outro lado, pode matar uma árvore.
erva de passarinho mata uma árvore?
quem quer uma àrvore viva? no wikihow me assusto ao encontrar a descrição de trës maneiras eficientes de matar uma árvore por atrapalhar a vista, por queremos outra naquele lugar, pela nossa vaidade de decidir quem vive quem morre. os três métodos são violentos – mata-se a árvore – mas dois deles são especialmente cruéis. processos lentos, interrompendo o fluxo da seiva em seu tronco ou abrindo fendas/feridas por onde se verte veneno. ainda no terceiro modo e o mais rápido de matar uma árvore, que é derrubá-la com um machado, o aviso: mate também a raiz, envenene-a, ou a árvore voltará a brotar.
âs vezes não sei o que dizer.
penso em árvores com as quais convivi por muitos anos. algumas desde que eram mínimas mudas.
tenho saudade. revisito-as quando posso. converso com elas.
por isso cuido da murta. para que não morra. e se arranco a erva que mata, os pássaros ainda teráo frutos vermelhos quando o verão voltar.
frutos vermelhos.
que o verao volte.
vote.
treze.