ao sair da casa de uns amigos depois de uma festa, uma casa ampla, diáfana, ventilada, notei que a louça era muita na pia. não se abandona uma festa deixando a louça suja. enquanto lavava sem muito método, sem ensaboar primeiro copos e taças, xicaras e pratos, mas o que me caía nas mãos, notei numa mureta à minha frente uma caixa de vidro com um bloco de gelo e, incrustado no gelo, o que parecia um filhote de pássaro ou morcego. na medida em que a louça ia sendo ensaboada, o bloco se desfazia e o bichinho começava a se mexer. fui chamar alguém que soubesse dizer o que era aquilo. ninguém sabia. quando voltei para louça e para o mistério que morava no gelo da caixa de vidro, ao mudar o ângulo de visão, pude ver melhor que era um filhote, de cachorro talvez, olhando espantado para mim. estendi a mão como quem quer proteger, fazer um carinho, dar de comer, e, de repente, o bicho salta na minha direção e, na medida em que avança, cresce de maneira improvável e rosna e ameaça, garras e presas. me afasto do seu caminho, ele corre imenso na direção das pessoas reunidas na sala. acordo aos gritos.
de onde esta insistência em transformar em palavras uma imagem que me chega tão perfeita em sonhos?