1 de setembro de 2010

no escuro, farejo

longe, o mar. os cães agora silenciam a lua.
não amanhece por mais que eu peça. tudo pesa. nada leve. na minha cabeça, caixas empilhadas ameaçam desabar. como se milhares de bolinhas de gude azuis escorressem nas infinitas escadarias de uma catedral. ensurdeço. conto carneiros. imagino constelações. constato o que há nos cantos da casa. nada.
não durmo e não sonho. vou me tornando cinza. depois brasa. depois verde. depois, outra vez, desespero. então choro. a noite não passa. o mar não para. acendo a luz arde em meus olhos. apago. fico tonta. nada mais respira no mundo. tudo está morto.
lembro que no japão trabalham. e há uma mulher que, olhando o mar, sabe que antípodas dormem. ela, então, sente muito sono e não pode dormir. por um momento eu me aproprio de seu sono. e adormeço. pensando no mar do japão. liberto do meu querer, o dia amanhece.



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2 comentários:

tati travisani disse...

bonito isso... aqui farejamos tbém. um bjo

Heitor Ferraz Mello disse...

"No escuro, farejo" e "Cisma" são muito lindos! Abraços, Heitor