2 de março de 2011

equidistante

os dois tinham irmãos gêmeos, os dois eram casados, os dois tinham filhos. os dois não se conheciam e amavam a mesma mulher. os dois só a viram na vida por uma vez. aquela.
no começo de tudo, ela disse para a mãe vou viajar e se mudou para o outro lado da mesma cidade. para por dois meses viver outra vida. como se fosse.
foi quando os conheceu.
um veio visitar um velho tio que precisava de socorro. a casa onde ela quase clandestina era vizinha do tio.
o outro, de passagem, pediu alguma informação.
e antes mesmo que fosse preciso que alguém se decidisse, ela voltou para casa como quem volta das férias.
por vários anos, um lhe enviava mensagens delicadas e amorosas de natal e aniversário. ela respondia sempre, mas sempre em dúvida, sempre reticente.
para o outro, ela é que mandava as mensagens ocasionais. ao que ele respondia sempre. sempre muito contido.
quando o tempo passou e as lembranças ficaram antigas, ela foi à casa do tio do um. da memória do velho, trouxe o como fazer para encontrar o homem que procurava.
ela foi até ele. na agência da pequena cidade, ela o viu por trás da mesa de gerente. quando os olhos cruzaram, ele não a reconheceu. ela nem se aproximou.
foi ao encontro do outro, de quem só sabia o nome e a cidade. quando chegou, mandou uma mensagem fora de ocasião dizendo estou aqui. e o endereço do lugar.
na mesma noite ele veio e viu que ela era tão intensa quanto seu irmão havia contado. mas nada disse.
passados os tempos, quando soube o quanto a amava, contou-lhe os fatos. ela não era uma mulher tola, por isso chorou. e também por não ser tola, se permitiu. e ficou.

Um comentário:

Alvaro Vianna disse...

Belíssima história.
bj