disse o velho escritor húngaro que é tão possível se afogar num balde quanto no oceano atlântico. por que eu me afogaria? por que eu guardaria água num pote sendo o mar amplo e salgado e tão navegável? e se em poças lamacentas a imagem de crianças que brincam é exatamente a imagem de crianças que brincam? e, afinal, me diz, por que eu afundaria um barco numa bacia?
as aparências aparentam. são as pessoas que se enganam.
24 de janeiro de 2012
21 de janeiro de 2012
ao pote - II
nos olhos do rato soube que ele sonha a nascente se espraia quando a chuva é muita nas pedras da margem um lagarto se aquece aranhas peçonhentas cobras dóceis pequenos insetos e sementes os pássaros devoram.
incluir maiúsculas pontos e vírgulas é aquecer a água fria da piscina.
cuidado, por mais cristalina nem toda água é potável.
incluir maiúsculas pontos e vírgulas é aquecer a água fria da piscina.
cuidado, por mais cristalina nem toda água é potável.
17 de janeiro de 2012
14 de janeiro de 2012
velhos amigos
quando chegam, se sentam à mesa da cozinha, catam junto o feijão, retomam antigas conversas. de blavatski aos lêmures. do mundo de lá ao medo de cá. chuvas, colheitas. o pão nosso de cada dia. velho amigo não é fim, em si, é caminho.
13 de janeiro de 2012
em rochedos sem saber usar
Isso que eu digo vem tanto da terra
quanto do mar. Do ventre da terra e
do mar do ventre. Dia e noite
sem repouso, palavras são postas sobre
a têmpora, azul, frágil, da crosta
terrestre. Assim que digo escrevo,
talvez só seja preciso escutar
que me inclino, estico a mão, coleto
rochas e rochedos sonoros.
(antoine wauters, tradução de Juliana Bratfisch daqui)
quanto do mar. Do ventre da terra e
do mar do ventre. Dia e noite
sem repouso, palavras são postas sobre
a têmpora, azul, frágil, da crosta
terrestre. Assim que digo escrevo,
talvez só seja preciso escutar
que me inclino, estico a mão, coleto
rochas e rochedos sonoros.
(antoine wauters, tradução de Juliana Bratfisch daqui)
6 de janeiro de 2012
amor real
(dizem que) aos homens o mundo tem reservado as transcendências. diante de um menino recém-nascido, eles trouxeram ouro, incenso, mirra. eu, mulher a quem foram designadas imanências, daria outros adjetivos ao amor: fralda, banana, pão.
2 de janeiro de 2012
dois mil e doze
Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como os pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se me o coração
(Ruy Belo)
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como os pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se me o coração
(Ruy Belo)
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