29 de setembro de 2012
25 de setembro de 2012
22 de setembro de 2012
um poema de md
As mãos negativas (excerto)
Chamam-se “mãos negativas” as pinturas de mãos encontradas nas grutas magdalenienses da Europa Sul-Atlântica. O contorno dessas mãos – espalmadas sobre a pedra – era recoberto de cor. O mais frequente de azul, de preto. Às vezes, de vermelho. Nenhuma explicação foi encontrada para esta prática.
Diante do oceano
sob a falésia
sobre a parede de granito
essas mãos
abertas
Azuis
E pretas
Do azul da água
Do preto da noite
O homem veio sozinho na gruta
de frente para o oceano
Todas as mãos têm o mesmo tamanho
ele estava sozinho
O homem sozinho na gruta olhou
no barulho
no barulho do mar
a imensidão das coisas
E ele gritou
Tu que tens um nome e uma identidade eu
te amo
Essas mãos
do azul da água
do preto do céu
Planas
Colocadas divididas sobre o granito cinza
Para que alguém as visse
Eu sou aquele que chama
Eu sou aquele que chamava que gritava há trinta
mil anos
Eu te amo
Eu grito que eu quero te amar, eu te amo
Eu amarei quem quer que escute o meu grito
Sobre a terra vazia ficarão essas mãos sobre a parede de
granito de frente para o fragor do oceano
Insustentável
Ninguém escutará mais
Ninguém verá
Trinta mil anos
Estas mãos, pretas
A refração da luz sobre o mar faz tremer
a parede da pedra
Eu sou alguém eu sou aquele que chamava que
gritava nessa luz branca
O desejo
a palavra ainda não foi inventada
Ele olhou a imensidão das coisas no fragor
das ondas, a imensidão de sua força
e depois gritou
Acima dele as florestas da Europa,
sem fim
Ele se segurou no centro da pedra
dos corredores
das vias de pedra
de todas as partes
Tu que tens um nome e uma identidade eu
te amo com um amor indefinido
Seria necessário descer a falésia
vencer o medo
O vento sopra do continente ele empurra
o oceano
As ondas lutam contra o vento
Elas avançam
abrandadas por sua força
e pacientemente alcançam
a parede
Tudo se esmaga
Eu te amo mais longe do que tu
Eu amarei quem quer que escutará que eu grito que eu
te amo
Trinta mil anos
Eu chamo
Eu chamo aquele que me responder
Eu quero te amar eu te amo
Há trinta mil anos eu grito em frente ao mar o
espectro branco
Eu sou aquele que gritava que te amava, tu
(Marguerite Duras, traduzido por Érica Zíngano e Marcela Vieira e publicado aqui)
https://www.youtube.com/watch?v=UKr1PvBt7SM
21 de setembro de 2012
20 de setembro de 2012
os porquês em revoada
um dia, muitos anos depois, no longo trajeto entre budapeste
e barcelona, entrei em sežana. cheguei na estação não pelo trilho mas
pelo caminho de quem veio a pé e quer pegar um trem. sem a mão da minha mãe,
cheguei no embarque e desembarque. uma sensação me tomava vertigem. aquilo
não podia ser. passos pra frente e um olhar para trás. e lá estava, era a cena
exata do sonho. a mesma claridade da estação, a placa com o nome da cidade, a linha do trem. como pode isso? já existia quando eu a sonhei? os outros
lugares todos, então - as matas escuras, os precipícios, as casas dos pesadelos com
seus estranhos banheiros, infinitos corredores escadas e penumbras de susto - também existem? em que lugar me esperam? quando fecho os olhos, a vigília é uma
estreita passagem sobre abismos.
19 de setembro de 2012
onírica
quando eu tinha uns nove ou dez anos, sonhei que
chegava na estação de trem de sezana com minha mãe. o trem parava antes da
plataforma e nós descíamos e íamos na direção da estação. e na estação havia a
placa com o nome "sezana". quando acordei e contei meu sonho, meu pai sugeriu que
olhássemos no atlas se a tal cidade existia. e existia. e era perto de trieste.
18 de setembro de 2012
16 de setembro de 2012
14 de setembro de 2012
12 de setembro de 2012
10 de setembro de 2012
abandono
"Hay dolor pero también hay felicidad al abandonar un libro. Me ha pasado así, al menos: primeiro el melodrama de haber perdido tantas noches en una pasión inútil. Pero luego, con el paso de los días, prevalece un ligero viento favorable. Volvemos a sentirnos cómodos en esa habitación en que escribimos sin mayores planes, sin propósitos precisos.
Abandonamos un libro cuando comprendemos que no estaba para nosostros. De tanto querer leerlo creímos que nos correspondía escribirlo. Estábamos cansados de esperar que alguien escribiera el libro que queríamos leer.
No pienso abandonar, sin embargo, mi novela."
(alejandro zambra, formas de volver a casa)
6 de setembro de 2012
sob o sol
será preciso dar água às palavras para que não se quebrem.
para que úmidas fiquem maleáveis e próximas. seco se entregar molhado casca se
revirar miolo toca se tornar ninho.
duras, as palavras viram pó, areia, sereno, uma mancha na
pele.
envelhecem.
pedra.
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