quando se
planta uma árvore, quando a árvore cresce, quando a árvore crescida floresce,
quando a flor frutifica, quando o fruto amadurece, esse fruto, que se conhece
desde que a árvore-mãe era semente, tem um sabor quase sagrado.
isso vale
também para a rúcula – de semente a folha e flor – ainda que o processo seja
imensamente mais rápido – e pra tudo aquilo que nem fomos nós que vimos crescer
ou pusemos cuidado: a alface do supermercado, a laranja, o arroz, a mandioca, o
ovo, o leite, o trigo transformado em farinha e pão. e também para a cadeira, a
casa, o papel, o computador que nesse momento teclo e para a energia que
permite a um outro, mesmo distante, me ler.
e quando o
mundo – o nosso restrito mundo – se preenche deste olhar, segue sendo o mesmo
mundo, mas outro. e neste outro mundo, as geleias da hungria, as azeitonas de
valência, as nozes que a mãe do zoli descascou uma a uma, o curry que a neide
preparou para que trouxéssemos, as meias de lã tricotadas pela mãe da modesta,
uma carta que alguém me escreve e em mim repercute, tudo tudo tudo, e também a lista
quase infinita do que agora não nomino,
faz o mundo vir morar na minha casa. quando sento pra comer, é o mundo que está
entre as mãos. esse fruto, que sempre deveria ser sagrado.
dor,
violência, injustiça, onde quer que sejam são o mundo
atravessado na garganta.
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