dia desses
a gina me convidou para participar de um projeto que tinha um título muito
instigante. tão instigante que na hora eu pensei que queria muito participar
mas talvez não tivesse pernas para tanto. quero dizer, pensei que nesse momento
eu teria tanto a dizer sobre o tema mas não teria como traçar instruções quanto
àquilo que se poderia fazer para acabar com a situação que estava no tema da
chamada. mas era a gina. e é difícil dizer não para um convite da gina. então,
na minha cabeça eu disse que não teria como participar, mas em algum lugar de
mim se desencadeou um processo. porque, afinal de contas, era um convite da
gina.
conheço há
gina há muitos anos, não sei bem quantos. alguma coisa ali por volta de 2010,
quando organizávamos os piqueniques perto de casa e nesta mesma época a neide
me apresentou a inês e a inês, ao conhecer o blogue, me falou de um blogue
coletivo e nesse blogue coletivo estava a gina. nunca vi a gina ao vivo e a
cores. ou seja, conheço a gina sem conhecer. e mesmo assim, sem conhecer
pessoalmente, é alguém de quem eu gosto muito.
acho que o
blogue que a ines me apresentou se chamava encaixe.
o nome da
gina automaticamente me remete para uma lembrança de infância, da caixa de
palitos. e uma piada boba de quinta série, quando a gente ria quando ouvia a
palavra vagina sem saber que um dia chegaria à conclusão que se tem mais medo
de quem tem vagina do que da palavra vagina, em si, mas uma coisa muitas vezes acompanha a
outra. não sempre.
voltemos à
gina. não sei quando, mas já tínhamos alguma interação, a gina lançou um pedido
– acho que no fb, mas também não tenho certeza – para que as pessoas fizessem
um desenho da cara dela a partir de uma mesma foto. e lá estava a foto da gina.
o olhar dela olhando séria, e um sorriso de canto de boca.
não sou desenhista,
mas gosto de rabiscar. já me meti a perguntar se serviria assim também. daí
peguei a foto e fiz um desenho com um lápis vermelho. lembro do meu processo,
de olhar a tela e olhar o papel e o lápis vermelho e o medo de perder o mais
importante, que era o olhar da gina. quando acabei o desenho, traços simples em
vermelho sobre papel branco, notei que o olhar dela tinha, de fato, se perdido.
mas era o meu melhor. quero dizer, o melhor, naquele caso, era poder estabelecer
aquele diálogo com ela, alguém cujo trabalho eu admirava (e admiro) mesmo sem
entender bem os conceitos envolvidos, etc.
um dia quero escrever sobre este processo, de usar uma técnica que não domino para fazer um desenho a partir de uma foto de alguém que não conheço. acho que mandei o desenho pelo
correio. faz tempo tudo isso, a memória fica difusa. e nunca vi o resultado de
todos os desenhos reunidos, não sei quanta gente desenhou, que técnicas usaram.
não sei nada. sei que a gina ficou ali, existindo e eu continuei acompanhando
os passos dela. redes virtuais. e a gina no meu radar
é sempre
discreta a presença dela. mas sempre me toca. ou porque está num perrengue e precisa
urgentemente vender várias obras, ou porque se posiciona a favor de coisas que
eu também sou a favor. ou se manifesta contra alguma coisa que eu também sou
contra. isso que a gente diz de estar do mesmo lado. do lado esquerdo e um
pouco selvagem da vida. não este esquerdo partidário, só. não, um estar à
esquerda de quem nao acha que o mundo do jeito que está esteja bom. e que é possível
construir caminhos. ou seja, o que ela faz, o que ela diz, o que ela pensa,
propõe e as coisas com as quais ela se desconforta e não se conforma me tocam
de perto.
é uma
destas pessoas que às vezes passam pelo meu pensamento e eu desejo que a vida
dela seja boa, seja intensa, que ela encontre alegriazinhas no cotidiano, que
ela encontre amor e não se canse demais. pra que eu possa seguir com ela mais
muitos anos, ela com a arte dela tão profissional, eu com a minha escrita quase
amadora, numa mesma estrada, e de vez em quando do meio da multidão ela me
acena, ou eu grito um bom dia, gina! e a gente sorri uma pra outra.
por tudo
isso, quando ela me pediu e eu pensei dizer não, meu corpo todo se mobilizou
para que eu fosse capaz de dizer sim. e eu disse. mandei o texto pra ela quando
ainda faltavam oito dias para terminar o prazo. e claro que precisei da ajuda dela para
formatar. fui incapaz de fazer isso por mim mesma porque cada vez domino menos
ferramentas. concentro-me em embaralhar o alfabeto que nem sempre é fácil também.
e sempre
sigo a gina. a gina dinucci.
onde quer
que ela vá.