6 de julho de 2025

*cage, **tsvetaieva e a guerra de gaza

aprendi com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó, que aprendeu com a guerra, a cozinhar com o que se tem em casa, não desperdiçar e aproveitar o que se pode encontrar: na geladeira, nos armários, no quintal, na beira dos caminhos. parece simples, mas exige uma certa arte para combinar sabores, cores, consistências. às vezes fica muito bom. outras vezes nem tanto. e umas poucas vezes chega a ser difícil de engolir. porque nem tudo combina com tudo. algumas vezes nos vencem o ódioi, o mofo ou as bactérias.

ultimamente me vejo fazendo poesia assim, aproveitando restos, palavras, silêncios* que não couberam em nenhum texto, canção, carta que eu tenha escrito. então, reúno tudo o que sobra, ponho sobre a mesa e busco um ritmo, uma imagem, uma estrutura que os conecte e nos ajude a estar “um milímetro de ar acima do chão”**. não é fácil. tenho falhado sistematicamente nisso de reunir estas palavras que sempre são tratadas como as sobras das sobras, aquilo que ninguém quer.

 

1 de julho de 2025

das crias e crianças

quando ele começou a falar, também começou a perguntar "por quê?" de tudo, tudo. e nunca mais parou de perguntar. a vida levou por caminhos nem sempre fáceis de compreender, mas ao olhar para trás vê-se muita beleza. dia desses foi sua formatura numa graduação dupla de física e filosofia na universidade de st andrews, no reino unido. foi bem emocionante. um tanto pela graduação com as cerimônias que gostam de lacrimejos, e um outro tanto, bem maior, por ver alguém se fazendo, se formando gente, se buscando e se encontrando, um processo contínuo de formação e perguntas. muitos que aquí me lêem me conhecem bem antes do chico ser., depois o conheceram na barriga, acompanharam a aventura de nascer, crescer, respirar, seguir respirando. e se ele vai se tornando quem é, isso também é resultado de quem está nas nossas vidas, dos que passaram e já não estão, dos que permanecem, de todos que deram pitaco, que deram apoio ou bronca, que cuidaram, que educaram, que alimentaram, e, principalmente, de todos que tiveram paciência para ajudá-lo, se não a encontrar respostas, ao menos encontrar os caminhos que o levem às respostas e aos porquês.
como digo sempre, as crianças não são da mãe e do pai, são do coletivo humano que somos. a este coletivo agradeço todo o apoio para chegarmos até esse momento com esta nossa cria.