aprendi com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó, que aprendeu com a guerra, a cozinhar com o que se tem em casa, não desperdiçar e aproveitar o que se pode encontrar: na geladeira, nos armários, no quintal, na beira dos caminhos. parece simples, mas exige uma certa arte para combinar sabores, cores, consistências. às vezes fica muito bom. outras vezes nem tanto. e umas poucas vezes chega a ser difícil de engolir. porque nem tudo combina com tudo. algumas vezes nos vencem o ódioi, o mofo ou as bactérias.
ultimamente me vejo fazendo poesia assim, aproveitando restos, palavras, silêncios* que não couberam em nenhum texto, canção, carta que eu tenha escrito. então, reúno tudo o que sobra, ponho sobre a mesa e busco um ritmo, uma imagem, uma estrutura que os conecte e nos ajude a estar “um milímetro de ar acima do chão”**. não é fácil. tenho falhado sistematicamente nisso de reunir estas palavras que sempre são tratadas como as sobras das sobras, aquilo que ninguém quer.
6 de julho de 2025
*cage, **tsvetaieva e a guerra de gaza
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário