6 de outubro de 2009

remetente

reescrevo cartas. a cada dia. há tempos sempre próxima do fim: papel pautado lápis letras.
despeço-me de cada um. embora ausente da vida e das pessoas, há tanto. entre tantas, há uma carta que jamais escrevo. a não-carta dirá o que sou incapaz.
no abrir de portas e fechar de luzes sua mão aflita remexerá papéis ocultos segredos guardados – à procura. haverá fotos, fitas, partituras. haverá quadros fora das molduras, pratarias, pequenas jóias próprias para netas, que não tive. haverá roupas à espera do meu entrecruzar de dedos. e envelopes sobrescritos. vários. muitos.
menos um. menos o este. menos o de quem mais revira e procura. menos o de para quem eu mais teria a dizer.
haverá sempre isto. o silêncio que você não foi capaz de romper.
ali.
estou.


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