14 de julho de 2011

agulha e palheiro

entrei na loja.
alguém veio saber o que eu buscava. disse procuro aquela música. e cantarolei. ele disse você acha que vou saber? há cinco milhões de canções populares húngaras registradas. posso ver o que tem? ele apontou uma enorme estante onde quase uma centena de cds se exibiam.
comecei. um por um.
veio outro alguém e disse posso ajudar? repeti o que já tinha dito. ele pediu um minuto. passaram-se vários. não parei na minha busca. então, esse um me mostrou um poema. eu disse não, não. ele continuou sua expedição para dentro do tempo e dos sons. eu, nas listas. daí, ele disse: aqui. está aqui. e me mostrou. eram cinco versões. eu disse está bem, vou levar. não vai ouvir? deveria ouvir? pela certeza, disse. levantou os ombros e os abaixou.
no silêncio da loja ecoou a voz do avô seus dedos ásperos o cheiro da lenha do pão da sopa da paisagem na neve o cheiro de todas as antepassâncias que nunca soubemos e mesmo assim, dizem, trazemos em nós.
paguei e saí. o mundo era grande.
o homem que amo estava vivo. à minha espera. a me amar também.