chegou, fez perguntas. ouviu isso aquilo. me fez lembrar de muitas coisas intensas. eu respondia, ela perguntava. então, agradeceu, deu-se por satisfeita. desligou o gravador.
respirei e disse como quem pergunta: você sabe quem eu sou, não é?
nossas mãos sobre a toalha xadrez, próximas e sem se tocarem.
os olhos dela marejados. foi a minha vez de ouvir. sem gravador, sem perguntas, o pão a crescer esquecido na mesa da cozinha. o passado, uma explosão contida, um resto de memória, nunca toda ela. a dor um registro difuso. ou não sobrevivemos. a faca de cima abaixo e as vísceras. depois tudo outra vez contido. ninguém sabe o estrago de decisões, de palavras ditas no escuro do cinema e um desconhecido a desinterpretar, de copos de uísque a mais, de saquê uma bomba sob o balcão do bar o punhal. do medo e a mão que vem em meu socorro deixa alguém largado na beira no mar nas pedras.
depois que ela saiu, eu me sentei e chorei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário