15 de dezembro de 2011

via aérea

um jeito de balançar as pernas, mexer as mãos e desviar os olhos e eu sei que mente. conversa com outro homem, conta vantagens e o outro se admira de si mesmo por despertar a atenção de um homem que se declara tão importante. mas ele mente. e o outro homem, aquele que se admira por achar que é admirado, é tolo e vaidoso o suficiente para não prestar atenção àquilo que ouve e saber, assim, que tudo o que houve é mentira.
o mentiroso, quando quase se delata, põe e tira os óculos escuros e se ajeita na cadeira da sala de espera do aeroporto, abre a maleta, tira um alicate de unhas e começa a fazer as unhas sob o olhar atento e embevecido do outro, que não sabe ao certo o que ou para onde olhar. os olhares se perdem, as palavras caem no chão, ocas, barulhentas e se quebram.
o voo vai sair. forma-se uma fila. o homem mentiroso fecha a mala, vai até o começo da fila, diz qualquer coisa que o promoveria a primeiro da fila. a mulher olha para ele, olha seus sapatos e num gesto contido diz não, não há por quê. ele que vá ao final da fila.
constrangido, ou quase constrangido, finge que seu telefone toca e finge que o atende e finge que tem alguma coisa para dizer e diz baixinho coisas ininteligíveis. depois vai até o final do corredor olhar vitrines.
sou a última da fila, logo atrás do homem que antes admirava o mentiroso. sorri amarelo ao perceber que era tudo mentira. e me pergunta as horas. não respondo. não entendo o que me diz.
é a minha vez.

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