aquela
pintura de velásquez, você a conheceu – ele me diz – presa no espelho do
banheiro por anos a fio, embora não fosse a pintura, fosse um cartão que
retratava a pintura sem as marcas da faca afiada de mary, a sufragista, a que disse – já presa e aflita – sem a calma meticulosa de quem corta delicadamente a tela
de um velásquez, vênus linda se olhando ao espelho – disse a sufragista - e foi
você quem me disse antes mesmo que eu lesse ou que me lembrasse (continuo não
me lembrando) do cartão no espelho do banheiro da casa junto ao largo – que assim
era preciso aniquilar a beleza da mulher mais linda de outros tempos para pedir
a liberdade da mulher mais bonita dos tempos de agora – que afinal também se
tornaram tempos de século atrás – de beleza rara e única de mulher que respira e
treme, que transpira e geme quando quer e não quando obrigada induzida
designada para, a beleza de quem se sabe plena de direitos – que se sabe com
esquerdos e todos os muitos lados que temos seres viventes, pulsantes tanto por
pensar quanto por sentir e mais que tudo por este ponto luminoso no mundo, este
onde estamos quem somos porque somos.
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