para soraya
vi uma pessoa
no metrô que me lembrava você.
entrou
outra, que me lembrou meu pai.
a cada
parada, o vagão se enchia de rostos, todos com aspecto familiar.
pessoas são
trajetos? pessoas que se parecem são diferentes maneiras do mesmo caminho?
por um
tempo fiz um mesmo trajeto de ida e vinda. todo dia todo dia todo.
até deixar
de fazê-lo.
deixar de
fazê-lo a ponto de me esquecer de sua existência.
um dia,
muitos anos depois, eis o trajeto. e
alguma coisa em mim se lembra.
vou fazendo
as curvas, tomando as decisões de direção quase sem pensar.
a memória que vem à
tona pensa por mim.
neste não
pensar, um rio de palavras silenciosas se permite.
nenhuma
palavra diz nada.
sobre elas
chove.
sobre elas
não se desenrola o desentendimento do início dos tempos ou o verbo.
os longos trens
de carga nas estações urbanas têm um silêncio próprio, uma espécie de
solenidade, algum mistério nas pedras que carregam. em seus líquidos.
têm um
silêncio que atravessa a nossa espera.
a espera
dos trajetos que se não lembramos nos lembram.
o trajeto da marcha
das mães dos desaparecidos.
que choram.
Tradução de Joan Navarro para o catalão e o castelhano na serieAlfa, aqui.
que choram.
Tradução de Joan Navarro para o catalão e o castelhano na serieAlfa, aqui.
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