maio, lua
cheia de maio, uma lua de silêncios me lembra alguém, a mesma das revelações, pequenas, grandes,
que se ocultam ao se manifestar explica a mulher enquanto com a língua revira a
dentadura meio presa meio solta que o homem,
aquele homem, esse homem, das
tripas, cuidava sim do espaço passagem, varria toda manhã, nada a ficar pelo
avesso e dobrava cobertas e guardava sacos plásticos caixas de papelão, ordenava
– o entorno – não mijava – em qualquer canto, não – não defecava – à
vista – a cada manhã, olhe para o céu agora neste maio de lua cheia em algum
lugar as nuvens esgarçam as tripas deste homem – qualquer – em seu apocalipse único
e miúdo, apocalipse de cada um, que nos faz ter um novo nome, este, que não seremos, este,
que mãe nenhuma pronunciará, esta, denominação última nossa num universo que nada circunscreve – as
tripas – num fim mínimo íntimo, enquanto diziam que seriam as tais vestes
reluzentes, não eu – eu, nua, da nudez áspera dos pesadelos de não saber amar o
próximo próximo, de não saber amar – naquela boca meu nome nem, nas mãos as palmas
abertas – nelas – a chama flamejante sem bênçãos – velas – este vazio este oco
sempre estas tripas onde sou o profundo medo onde reverbera a voz e o que quer que
anuncie o que quer que diga, eu, ouvidos moucos, eu, a desdizer nada, este
nada das mãos queimadas ao tocarem o que sabe não saber o amor ao próximo distante,
o que sabe não se saber capaz – eu – sem ramo nas mãos, sem cinzas sobre a
testa – eu -- este um que se arrasta rasteja escapa enquanto os eleitos
nominados e satisfeitos, enquanto os eleitos mãos em prece, enquanto os eleitos
sem suspeitarem do meu olhar quando, do meu
olhar onde, do meu olhar enquanto – eu – à procura de quem, sabendo que não
sou digna, sabendo que nem indigna, sabendo me absurda muda obtusa contemplação
daquele de quem se diz pedra dor castigo, daquele que se diz verbo. fogo,
principio e desolação.
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