10 de dezembro de 2015

é a minha pele e ela não é de metal



é a minha pele e ela não é de metal. não é de metal.*

senhora de ventos e tempestades, leve-me
é possível  desenrolar um novelo e descobrir o inexistente fio?
isso é a guerra

o mundo desabando e a mulher faz pequenas escolhas ao longo do dia
na hora do silêncio não sabe se limpa as orelhas do mais novo
se cuida de suas próprias feridas
se dorme, com fome e aflita, se dorme
esta é a guerra

os cancros devorando nossos dentros
e seguimos capazes de buscar o fio?
que guerra?

são várias as maneiras de reduzir a cabeça do inimigo
(os que matam hoje
tiro fome doença
serão mortos amanhã
fome doença tiro)
para que caiba na palma da tua mão

isso se diz novelo
o que dispara o gatilho
o que sobre ele manda
o que a esse controla
aquele outro que ameaça
um que quase ninguém vê
por fim aquele que não sabemos se de fato existe
e ao chegar nas festas é sempre delicado
ao jantar nas casas leva flores
ajuda a recolher os pratos
elogia a comida
a cada noite reza e pede paz para os filhos
 vida longa aos inimigos
porque deles se alimenta

nesta guerra

abrem a porta,
a mãe chora agradece a coroa nela os nossos nomes
 saudade eterna morreu tão jovem

então é isto a guerra?

que bobagem, minha querida, não pode ser guerra.
 para haver guerra, algum de nós haveria de ser o inimigo

desenrole-me


* Pinetree Epinetree

Nenhum comentário: