15 de fevereiro de 2017

um poema de adrienne rich


O poder

Vivendo nos sedimentos-de-terra da nossa história

Hoje de um flanco de terra a esboroar-se um ancinho divulgou
uma garrafa âmbar perfeita cura
centenária para a febre ou melancolia um tónico
para viver nesta terra nos invernos deste clima

Hoje lia sobre Marie Curie:
ela devia saber que sofria de radiações
o corpo bombardeando anos a fio pelo elemento
que ela tinha purificado
Parece que negou até ao fim
a origem das cataratas dos olhos
a pele rachada e purulenta das pontas dos dedos
até já não conseguir segurar um tubo de ensaio ou lápis

Morreu mulher famosa negando
as suas feridas
negando que
as suas feridas tinham a mesma origem que o seu poder.

(tradução: Maria Irene Ramanho e Monica Varese Andrade, via Laura Erber)

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