entre as tantas leituras, chego em sebald, sobre a história natural da destruição.
“Com a data de 20 de agosto de 1943, na passagem anteriormente citada,
Friedrich Reck informa de uns quarenta ou cinquenta fugitivos que
tentaram assaltar um trem em uma estação da Alta Baviera. Na tentativa,
uma mala de papelão “caiu numa plataforma, se arrebentou e todo o seu
contéudo virou. Brinquedos, um estojo de manicure, roupa interior
chamuscada. Finalmente, o cadáver de um menino assado e mumificado, que
aquela mulher meio louca levava consigo como resto de um passado que
poucos dias antes estava intacto.” “
ou
“(...) só com os lança-chamas podiam abrir caminho até os cadáveres que jaziam nos abrigos antiaéreos, tão densas eram as nuvens de moscas que zumbiam ao seu redor, e as escadarias e o chão dos porões estavam cobertos por vermes resvaladiços, mais grossos que um dedo. “Ratazanas e moscas dominavam a cidade. Insolentes e gordas, as ratazanas corriam pelas ruas. Mas mais repugnantes eram as moscas. Grandes, de reflexos esverdeados, como nunca se tinha visto. Davam voltas como caroços pelo asfalto, pousavam nos restos de parede copulando umas sobre outras e se aqueciam, cansadas e fartas, nos vidros quebrados das janelas. Quando já não podiam voar, arrastavam atrás de nós através das mais mínimas fendas, sujavam tudo, e seus sussurros e zumbidos eram a primeira coisa que ouvíamos ao despertar.”
no brasil, agora temos documentos que nos explicam que os generais da ditadura estavam informados e decidiam, caso a caso, quem viveria e quem morreria. nome por nome. por que a gente faz isso? por que a gente acha que a supressão do outro, sua morte, é que nos salva a vida?
ou
“(...) só com os lança-chamas podiam abrir caminho até os cadáveres que jaziam nos abrigos antiaéreos, tão densas eram as nuvens de moscas que zumbiam ao seu redor, e as escadarias e o chão dos porões estavam cobertos por vermes resvaladiços, mais grossos que um dedo. “Ratazanas e moscas dominavam a cidade. Insolentes e gordas, as ratazanas corriam pelas ruas. Mas mais repugnantes eram as moscas. Grandes, de reflexos esverdeados, como nunca se tinha visto. Davam voltas como caroços pelo asfalto, pousavam nos restos de parede copulando umas sobre outras e se aqueciam, cansadas e fartas, nos vidros quebrados das janelas. Quando já não podiam voar, arrastavam atrás de nós através das mais mínimas fendas, sujavam tudo, e seus sussurros e zumbidos eram a primeira coisa que ouvíamos ao despertar.”
no brasil, agora temos documentos que nos explicam que os generais da ditadura estavam informados e decidiam, caso a caso, quem viveria e quem morreria. nome por nome. por que a gente faz isso? por que a gente acha que a supressão do outro, sua morte, é que nos salva a vida?