dia desses, sentada ao sol na praça do rei,
me dei conta que fazia figuração pras fotos dos turistas. eu e umas tantas
pessoas, nosso intervalo de um dia qualquer
e ninguém se pergunta quem somos por que
esperamos por que um de nós chora num canto quem é este mendigo. os turistas chegam,
sobrevoam, riscam de sua lista “praça do rei”. há grupos de turistas instalados em alguns
pontos da cidade. olhando com atenção é possível notar que os grupos parecem
permanecer, mas a cada vez são outros. os turistas, todos tão iguais. eles vão,
a gente fica, sentado nas escadarias da praça do rei num intervado de um dia qualquer.
fazendo figuração. entre eles, há adolescentes de pernas desproporcionais,
movendo-se, como bandos de pombas quando se joga umas migalhas de pão. o
gótico. o tempo. penso na morte. nesse exato momento ao sol sei que figurantes,
adolescentes e turistas evitam pensar na morte. porque sempre evitamos o
pensamento morte entre um cigarro e outro uma foto e outra um dia e o seguinte mesmo
que os sonhos a cada noite se tornem pesadelos e horror. neste, e em todos os
momentos, queremos ser sempre eternos. sorrisos congelados. fumaça de
cigarros. na praça do rei. ao sol.
no centro de são paulo um prédio desaba. eram cento e cinquenta famílias. quarenta e nove mortos e há quem condene os que não voltaram para salvar seus bichos.
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