tenho me perguntado o que fazer nas tempestades.
*
antes de
ontem fomos assistir shunske sato e seu violino tocando bach. o dia
estava azul quando entramos na sala de pé direito alto e janelas
grandes. no meio da bwv 1005 começou a mudar o tempo. das montanhas
chegavam nuvens cinzas e raios tão raros por aqui. o som do violino
invadindo o por dentro da gente. capacidade da música de me fazer
pensar mistérios: naquele momento, a vida nossa, meus filhos existindo
ali.
a chuva chegou forte,
intensa, revirando tudo o que estava fora da música de bach que brotava
de shunske e seu violino. uma goteira começou a pingar do alto teto e
escorrendo pela luminária caía na cabeça do violinista que seguia na
fuga. só ao terminar o movimento, pediu desculpas, e avisou da goteira e
de seu cabelo molhado. apagadas as luzes para evitar um curto-circuito,
shunske sato voltou a tocar. escurecia, a chuva ocupava todas as
janelas. ninguém se mexia.
**
um dia li um livro quase bobo
sobre uma mulher cujo primeiro amor foi um lobo de dentes amarelos. e o
segundo amor, bach. ao longo da história ela repetia: vivo entre um lobo
e um gordo. lembrei do livro. pensei no gordo nos abraçando. pensei na
tata.
***
foi uma das tempestades mais bonitas que já vivi.
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