19 de julho de 2019

das tempestades

tenho me perguntado o que fazer nas tempestades.
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antes de ontem fomos assistir shunske sato e seu violino tocando bach. o dia estava azul quando entramos na sala de pé direito alto e janelas grandes. no meio da bwv 1005 começou a mudar o tempo. das montanhas chegavam nuvens cinzas e raios tão raros por aqui. o som do violino invadindo o por dentro da gente. capacidade da música de me fazer pensar mistérios: naquele momento, a vida nossa, meus filhos existindo ali.
a chuva chegou forte, intensa, revirando tudo o que estava fora da música de bach que brotava de shunske e seu violino. uma goteira começou a pingar do alto teto e escorrendo pela luminária caía na cabeça do violinista que seguia na fuga. só ao terminar o movimento, pediu desculpas, e avisou da goteira e de seu cabelo molhado. apagadas as luzes para evitar um curto-circuito, shunske sato voltou a tocar. escurecia, a chuva ocupava todas as janelas. ninguém se mexia.
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um dia li um livro quase bobo sobre uma mulher cujo primeiro amor foi um lobo de dentes amarelos. e o segundo amor, bach. ao longo da história ela repetia: vivo entre um lobo e um gordo. lembrei do livro. pensei no gordo nos abraçando. pensei na tata.
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foi uma das tempestades mais bonitas que já vivi.

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