acordou assustada como se o mar por fim lançasse na margem seu corpo estrangeiro e magro. viu nuvens confusas no céu de agosto e aviões. os roncos de motor atravessando a noite. tudo pode sempre ser só um princípio.
na cozinha escura foi o avô quem lhe ofereceu um copo e ela notou a árvore que eram os braços estendidos que sustinham a água. roçou galhos na casca áspera dos dedos.
depois, sentada naquele colo de raízes, esperou. a brisa derrubou folhas e algum fruto em desamparo. passaram em revoada fragmentos de dias vividos e outros tantos, passaram também estradas, pátrias, constelações. pequenas alegrias pousaram em seus cabelos, feito ninhos.
ao tocar o chão, tudo tudo tudo se dissolvia e subia pelos troncos, espraiando-se.
também eu – seiva – subo subo subo e no alto posso ver a vida que se descortina tênue linha entre o amarelo e o rosa onde um mínimo sol desponta.
no colchão de crinas, dorme a memória dos cavalos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário