24 de agosto de 2020

too much

os tomates crescem, crescem quase a olhos vistos. são de um verde opaco, cremoso, e têm uma penugem de pele de bebê. de um momento para o outro, é como se perdessem a penugem e o verde opaco se transforma numa película que cobre os veios de cada tomate, vê-se que são repletos de fluidos, tomados de transparências. agora eu sei que neste momento começa o amadurecer. depois de perderem a opacidade, a translucidez se mantém por uns dias, e de um momento para o outro a pele fica firme e o verde passa para uma cor difícil de descrever, entre esverdeado e laranja, e, lentamente, como se fosse mesmo um amanhecer, o tomate chegará primeiro num laranja sem brilho e logo num vermelho cada vez mais profundo e luminoso. 

a única tristeza de ver os tomates amadurecendo ao sol de verão é saber que o tomateiro, em si, ainda que lance mais umas flores, não viverá muito. as folhas secam, secam, e um dia todo ele está seco. só se mantém em pé porque se apoia na estrutura que construímos para ele.

fico pensando se a nossa pele quando for ficando translúcida será sinal de que estaremos enfim amadurecendo. nossa morte, um fruto maduro, carnudo, cheio de suco e sementinhas.

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