31 de dezembro de 2020

rascunho

no primeiro dia da criação deste mundo trancadas em casa não pudemos sair para ver a luz se fazendo escuridão nem pusemos os pés na água que se juntava ao céu nem repetir o nome das aves dos peixes de todos os animais da terra que já não tinham nome ou já os havíamos esquecido/ dentro das casas éramos estátuas de barro imóveis sem qualquer sopro de espírito em nossa cara a mordaça e o medo nos deixaram sem ar e sem caminhos nossos ossos trêmulos os olhos fechados de quem ainda não nasceu também não estavam sabendo dormir/ tudo perdia o chão e vagamente nos lembrava montanhas se movendo na direção de maomé esta gruta escura, espaço e tempo reduzidos a um ponto de silêncio imenso, nosso coração colabado em pedra/ esperamos/ esperamos/ esperamos/ que fosse o fim dos dias sem saber que era o primeiro/ que fosse o primeiro sem entender que aquilo a cada dia era o fim/os véus, todos os véus, por terra.

e agora, josé, o excesso de luz também é um tipo de cegueira, não é?

Nenhum comentário: