8 de janeiro de 2022

o que trazem os magos do oriente

imagem: @oysterboywho ou joão bresler

a experiência do corpo a corpo com a ovelha vem e vai nos meus dias. cada vez que abraço o cão, é na ovelha que penso. o emaranhado da lã áspera e suave ao mesmo tempo, disfarçando uma força física que eu não supunha. também me pergunto como é que a ovelha se meteu naquelas cordas, naquela cerca de horta. por que ela estava ali e as outras não? o que faziam as outras que não vinham ao menos para fazer multidão de rebanho e afastar os cães e talvez os lobos. há quanto tempo poderia estar ali a ovelha e quanto tempo mais ela teria aguentado ficar?

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hoje, fazendo faxina, pensei também nas tantas camadas de poeira que vão se assentando na casa. é como o cabelo que cresce e a gente não vê, a unha. o pó se assenta quando não se olha e quando menos se espera é uma camada grossa que deixará manchas escuras no pano de pó. há pó em todo canto. no pelo da ovelha também. e galhinhos e capim.

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o cão respira pesado ao meu lado. às vezes me pergunto o que será que ele sonha. se humanos intervimos no seu sonho com nossos sons e sinais. se ele sonha com sombras e cheiros. com medos. e as alegrias próprias de um cão.

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quais são as alegrias próprias de um cão?

 e as impróprias?

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no dia de reis ganhei de presente uma pintura que dialoga com a pintura do cão afundado na areia do goya. no lugar de um cão desconhecido, o cão que vive conosco. achei de uma doçura! ganhei também uma espátula de madeira fina e frágil, multiuso. cada objeto carrega consigo o gesto das mãos que o fizeram. ou uma ideia que move. no caso da caixinha de tic tac com arroz dentro, ganhei uma memória, a confusão de um sentimento que era de cuidado e virou uma mini tragédia no pensamento de um menino (andando pela calçada estreita, ele disse: olha, mãe, um arrozinho! e me mostrou um grão de arroz na ponta do dedo. ao mesmo tempo em que perguntava de onde tinha tirado aquilo, mandei: joga isso fora! e ele jogou. depois de jogar, explicou: não era um arroz, era uma balinha de tic tac que ele tinha chupado até ficar parecida com um grão de arroz. depois de explicar, chorou. também eu fico com o choro preso na garganta quando penso neste dia. e a minha aflição em protege-los. proteger do quê? se o mundo não é uma ameaça, é um imenso campo de experimentações...).

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as muitas epifanias de que é feita cada epifania.

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