9 de novembro de 2022

instruções para dar fim a um embuste

(para gina dinucci)

 

olhou em volta e viu a mata toda queimada, os animais mortos, patas e bicos imóveis, quando viu tudo cinzas, silêncio, carvão, sentou-se e chorou.

toda floresta um dia nasceu. cresceu lenta e lentamente se formou espaço entre árvores, onde novas plantas buscam o sol, e outras preferem a sombra ao rés do chão. o tempo trouxe as epífitas, suas raízes aéreas, e também os bichos que não vemos. insetos minúsculos, aranhas, aves que aí gorjeiam, macacos, onças, preguiças, um tamanduá. tudo, tudo o que nos fez ser floresta, um dia nasceu. e se fez.

depois do incêndio, éramos muitas ali sentadas chorando a devastação.

enquanto chorávamos, raízes e sementes, insistiam, depois de resistir ao fogo. repare.

levante-se, portanto.

tire o poder das mãos de quem incendiou este país.

aguce a vista e busque as ferramentas para afastar as cinzas onde mínimos verdes despontam.

chore pra regar a vida até a próxima chuva.chore e dance.

insista em seu verde, como insistem as sementes e as raízes, até que voltem as aves, os insetos e outros animais, até que a floresta seja. seja sinfonia, cores, sombras, luz. 

 

 

Um comentário:

Maria Eu disse...

Haja sementes. Haja quem as lance à terra e as proteja, uma e outra vez!

Um beijo