13 de fevereiro de 2018

janusz korczak


“A criança que você pôs no mundo pesa cerca de dez libras. É feita de oito libras de água e de um punhado de carbono, cálcio, nitrogênio, sulfato, fósforo, potássio e ferro. Você deu à luz a oito libras de água e duas libras de cinzas. Assim, cada gota de seu filho era o vapor da nuvem, o cristal da neve, da bruma, do orvalho, da água da nascente e da lama do esgoto. Milhões de combinações possíveis de cada átomo de carbono ou nitrogênio.
Você apenas reuniu o que já existia.
Olhe a Terra suspensa no infinito.
O Sol, seu próximo companheiro, está a cinqüenta milhões de milhas.
Nosso pequeno planeta não é mais que três mil milhas de fogo recoberto por uma película que tem apenas dez milhas.
Sobre esta fina película, um punhado de continentes jogados entre os oceanos.
Sobre estes continentes, no meio das árvores, arbustos, pássaros e animais – o ruído dos homens.
Entre estes milhões de homens, está você, que deu à luz a um homem a mais. O que é ele? Um galhinho, uma poeira – um nada.
É tão frágil que uma bactéria pode matá-lo; uma bactéria que aumentada mil vezes é apenas um ponto no campo visual.
Mas este nada é irmão das vagas do mar, do vento, do relâmpago, do Sol, da Via Láctea. Este grão de poeira é irmão da espiga de milho, da relva, do carvalho, da palmeira, irmão de um passarinho, do filhote de leão, de um cãozinho.
Neste nada há qualquer coisa que sente, deseja, observa; que sofre e que odeia; que é feliz e que ama; que tem confiança e que duvida; que acolhe e que rejeita.
Este grão de poeira encerra em seu pensamento as estrelas e os oceanos, as montanhas e os precipícios. E o que é a essência da alma senão todo o universo, faltando apenas as suas dimensões.
É esta a contradição inerente ao ser humano: nascido de um quase nada, Deus está nele”.

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